AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E OUTRA VEZ OS TPCS

No DN retoma-se a sempre presente questão dos TPCs sublinhando a latitude das opiniões sobre esta questão.
Neste sentido cita opiniões do Professor Mário Cordeiro, como tendo uma posição de princípio contra o recurso aos TPCS clássicos e ouve também o Professor Pedro Rosário que os entende como úteis da forma ajustada.
Talvez fruto do clima de fortíssima crispação que nos últimos anos envolve a educação, os debates e as ideias também tendem a ser crispados, com opiniões definitivas e sem margem de entendimento. Também assim tende a acontecer quando se discute a questão dos TPC. M
Já tantas vezes aqui falei sobre esta matéria que me dispenso de reafirmar a minha posição, pode ver-se aqui, por exemplo.
Vou retomar apenas algumas afirmações do Professor Pedro Rosário por quem tenho estima e consideração científica. Refere que "uma grande parte dos argumentos contra os TPC são emocionais ou contra a utilização da ferramenta. A estratégia é adequada, a forma como muitas vezes se utiliza é que não é".
Não, não é exactamente assim. Muitíssimos estudos e relatórios internacionais como estudos comparativos mostram que a não há uma relação significativa entre o número médio de horas gastas nos TPCs e os resultados escolares. Se recordarmos um trabalho da OCDE, "Does homework perpetuate inequities in education?" produzido com base em dados recolhidos no âmbito do PISA nos anos de 2003 e 2012 que os alunos com famílias de meios sociais e económicos mais favorecidos gastarem mais 2 horas em trabalhos de casa que os seus colegas com famílias de estatuto mais baixo o que, sublinha a OCDE, poderá alimentar a falta de equidade.
Neste contexto, parece-me pertinente recordar que o nível de escolaridade dos pais, em Portugal em particular da escolaridade da mãe conforme dados recentemente divulgados, é um fortíssimo preditor do sucesso escolar dos filhos. Um recente trabalho da responsabilidade conjunta da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do CNE mostrou que que nove em cada dez alunos com insucesso escolar são de famílias pobres.
Estes dados sustentam o entendimento de que os trabalhos de casa correm o sério risco de alimentar desigualdade de oportunidades, não são importantes como muitas vezes se entende e obriga-nos a reflectir sobre a sua utilização da forma que é mais habitual.  Não me parece que isto tenha algo de “emocional” ou de “contrismo”, estar contra porque sim. Acresce que, designadamente nos dois primeiros ciclos o tempo passado por muitos alunos na escola, pode chegar às 10h, aconselha a maior das prudências no acréscimo de TPCs. Aliás vejo mais "emoção" e pré-conceito na defesa forte dos TPCs que ao contrário, basta ver as caixa de comentários na imprensa on-line ou nas redes sociais.
O Professor Pedro Rosário entende ainda que os TPCs deveria ser adequados a cada aluno, ou seja e nas suas palavras “Deviam seguir a perspetiva do personal trainer. Podiam servir como ferramenta de aproximação às necessidades dos alunos”.
Não sei a que escolas ou níveis de ensino se aplicará uma gestão do tipo “personal trainer”. No primeiro ciclo, já me parece difícil dada a diversidade dos alunos.
A partir do 5º ano existem docentes com várias turmas que representam para muitos deles números bem superiores a 100 alunos. Como preceder e regular uma gestão individual dos trabalhos de casa com prescrição à medida e respectiva monitorização? É possível?
Do meu ponto de vista há que insistir em dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores realizado na escola. Em caso, se for caso disso, e apara alunos mais velhos usar com ferramenta de exercício e, para todos, usar o pouco tempo que terão, em actividades que não sendo TPCs clássicos são certamente úteis, ler será um exemplo óbvio.

2 comentários:

  1. Sobrecarregar os alunos com trabalhos de casa (sem qualquer articulação entre os docentes que os prescrevem) é retirar às crianças e jovens tempo que poderia ser mais útil se passado em família (ela, grande parte das vezes, a colaborar na execução dos TPCs) ou ocupados com outras actividades. Muitas vezes, os professores "passam" trabalhos de casa porque, devido às características da turma, não conseguem dar a matéria. Enfim... é uma discussão que não tem fim.

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  2. Mas que importa continuar. Não se torna fácil alterar, a cultura dos TPCs e da sua imprescindibilidade está muito enraizada, não só na escola como também entre os pais. Não tem acompanhado as mudanças na vida escolar dos miúdos e também na sua vida familiar

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