No DN retoma-se a sempre presente
questão dos TPCs sublinhando a latitude das opiniões sobre esta questão.
Neste sentido cita opiniões do
Professor Mário Cordeiro, como tendo uma posição de princípio contra o recurso
aos TPCS clássicos e ouve também o Professor Pedro Rosário que os entende
como úteis da forma ajustada.
Talvez fruto do clima de
fortíssima crispação que nos últimos anos envolve a educação, os debates e as
ideias também tendem a ser crispados, com opiniões definitivas e sem margem de
entendimento. Também assim tende a acontecer quando se discute a questão dos
TPC. M
Já tantas vezes aqui falei sobre
esta matéria que me dispenso de reafirmar a minha posição, pode ver-se aqui,
por exemplo.
Vou retomar apenas algumas
afirmações do Professor Pedro Rosário por quem tenho estima e consideração
científica. Refere que "uma grande
parte dos argumentos contra os TPC são emocionais ou contra a utilização da
ferramenta. A estratégia é adequada, a forma como muitas vezes se utiliza é que
não é".
Não, não é exactamente assim. Muitíssimos
estudos e relatórios internacionais como estudos comparativos mostram que a não
há uma relação significativa entre o número médio de horas gastas nos TPCs e os
resultados escolares. Se recordarmos um trabalho da OCDE, "Does homework perpetuate inequities in
education?" produzido com base em dados recolhidos no âmbito do PISA
nos anos de 2003 e 2012 que os alunos com famílias de meios sociais e
económicos mais favorecidos gastarem mais 2 horas em trabalhos de casa que os
seus colegas com famílias de estatuto mais baixo o que, sublinha a OCDE, poderá
alimentar a falta de equidade.
Neste contexto, parece-me
pertinente recordar que o nível de escolaridade dos pais, em Portugal em
particular da escolaridade da mãe conforme dados recentemente divulgados, é um
fortíssimo preditor do sucesso escolar dos filhos. Um recente trabalho da
responsabilidade conjunta da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do CNE
mostrou que que nove em cada dez alunos com insucesso escolar são de famílias
pobres.
Estes dados sustentam o
entendimento de que os trabalhos de casa correm o sério risco de alimentar
desigualdade de oportunidades, não são importantes como muitas vezes se entende
e obriga-nos a reflectir sobre a sua utilização da forma que é mais habitual. Não me parece que isto tenha algo de “emocional”
ou de “contrismo”, estar contra porque sim. Acresce que, designadamente nos
dois primeiros ciclos o tempo passado por muitos alunos na escola, pode chegar
às 10h, aconselha a maior das prudências no acréscimo de TPCs. Aliás vejo mais "emoção" e pré-conceito na defesa forte dos TPCs que ao contrário, basta ver as caixa de comentários na imprensa on-line ou nas redes sociais.
O Professor Pedro Rosário
entende ainda que os TPCs deveria ser adequados a cada aluno, ou seja e nas
suas palavras “Deviam seguir a perspetiva
do personal trainer. Podiam servir como ferramenta de aproximação às
necessidades dos alunos”.
Não sei a que escolas ou níveis
de ensino se aplicará uma gestão do tipo “personal trainer”. No primeiro ciclo,
já me parece difícil dada a diversidade dos alunos.
A partir do 5º ano existem docentes
com várias turmas que representam para muitos deles números bem superiores a
100 alunos. Como preceder e regular uma gestão individual dos trabalhos de casa
com prescrição à medida e respectiva monitorização? É possível?
Do meu ponto de vista há que
insistir em dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores realizado
na escola. Em caso, se for caso disso, e apara alunos mais velhos usar com
ferramenta de exercício e, para todos, usar o pouco tempo que terão, em
actividades que não sendo TPCs clássicos são certamente úteis, ler será um
exemplo óbvio.
Sobrecarregar os alunos com trabalhos de casa (sem qualquer articulação entre os docentes que os prescrevem) é retirar às crianças e jovens tempo que poderia ser mais útil se passado em família (ela, grande parte das vezes, a colaborar na execução dos TPCs) ou ocupados com outras actividades. Muitas vezes, os professores "passam" trabalhos de casa porque, devido às características da turma, não conseguem dar a matéria. Enfim... é uma discussão que não tem fim.
ResponderEliminarMas que importa continuar. Não se torna fácil alterar, a cultura dos TPCs e da sua imprescindibilidade está muito enraizada, não só na escola como também entre os pais. Não tem acompanhado as mudanças na vida escolar dos miúdos e também na sua vida familiar
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