AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 29 de novembro de 2014

CHUMBAR FAZ BEM AOS POBRES

Algumas notas breves dado o espaço.
"E o que acontece aos alunos com dificuldades?
Não são prejudicados pelos exames nacionais, porque o facto de as dificuldades virem ao de cima cria uma necessidade óbvia de serem ajudados.
Mas o CNE alerta precisamente para o facto de as escolas os chumbarem só para não baixarem a média da escola nos exames e ficarem melhor nos rankings…
Não me quero pronunciar sobre esse aspecto específico que desconheço. Isso, a acontecer, seria um efeito perverso. Quero crer que não
Mas é um alerta do CNE.
Os exames podem pôr a nu as deficiências de certos alunos e escolas. Isso deve servir como meio de diagnóstico, para atacar os problemas. Sem os exames, provavelmente esses problemas passariam despercebidos, o aluno faria o seu trajecto, mas sem aprender. A escola não desempenharia o seu papel."
Talvez fosse interessante que o Dr. Manuel Coutinho Pereira se interrogasse como é que, por exemplo do 1º ciclo, os eventuais "problemas de um aluno passam despercebidos"  durante 4 anos e só o exame os revelará. Não, Dr. especialista em economia da educação, as escolas cumprem o seu papel quando dispõem de recursos e dispositivos que lhes permitam detectar precocemente as dificuldades, intervêm continuamente no processo de ensino e aprendizagem e não esperam pela medida do produto, o exame, para intervirem.
(...)
Num estudo de que é co-autor refere que nos países escandinavos e na Itália menos de 5% dos alunos com 15 anos repetiram alguma vez no ensino básico, enquanto em Portugal, França, Espanha e Luxemburgo os números estão acima dos 30%. Concorda com o CNE quando este diz de que há uma cultura de retenção em Portugal?
A repetência é usada com bastante frequência em Portugal. Até que ponto isso é positivo ou negativo, só podemos responder se soubermos qual o efeito da repetência sobre o desempenho escolar a curto, a médio e a longo prazo. 
Foi o que investigou nesse estudo…
O que concluímos foi que a retenção no 1.º e 2.º ciclos tem efeitos negativos a longo prazo. A nossa análise foi feita a partir dos resultados de estudantes que fizeram o PISA [um estudo internacional da OCDE que compara as competências dos alunos de 15 anos em diferentes áreas] e que foram retidos no 1.º e 2.º ciclos. Já nos estudantes que frequentavam o 3.º ciclo encontrámos resultados positivos da retenção sobre o seu desempenho escolar. 
(...)
Também defende que alunos “cujas características socioeconómicas os tornam mais propensos a repetir são, regra geral, também os que mais ganham” com isso. Como é que isto se articula com o que acabou de dizer?
Constatamos que o facto de se pertencer a um estrato socioeconómico mais desfavorecido torna um pouco mais provável que o estudante seja retido. E são esses também que tendem a ganhar mais com a retenção no 3.º ciclo e a perder menos no 1.º e 2.º ciclo. 
Alunos de contextos mais desfavorecidos beneficiam mais com a retenção, independentemente do ciclo de ensino? 
O estrato socioeconómico de onde o estudante provém tem impacto sobre o desempenho e a retenção desses estudantes pode colmatar deficiências que têm em casa. Se o acompanhamento por parte dos pais e os recursos educativos em casa forem um pouco inferiores, o efeito da repetência pode ser mais positivo do que nos estudantes que não tenham essas carências. Ter repetido um ano dá-lhe alguma hipótese de instrução adicional, de mais exposição à matéria. (...)"
O Sr. Dr. Especialista em Economia da Educação conclui então que nos mais novos o chumbo faz mal e que nos mais velhos o chumbo faz bem. Conclui ainda que aos pobres mais novos o chumbo faz menos mal e que aos pobres mais velhos o chumbo faz ainda melhor porque faltando o apoio e as condições lá em casa, repetir na escola ajuda a compensar. No meio, o Sr. Dr. especialista em Economia da Educação teoriza sobre a "maturidade" ou "imaturidade" dos alunos variável que do seu ponto de vista torna o chumbo bom ou mau.
Bem visto, Não ocorre ao Sr. Dr. especialista em Economia da Educação que, mais uma vez, a escola teria que tentar fazer a diferença, ou seja, contrariar o "destino " estatisticamente comprovado, e reconhecido pelo Sr. Dr. de que os mais pobres chumbam mais. Ora acontece que para a escola fazer a diferença terá que possuir os recursos necessários para estruturar dispositivos de apoio ao trabalho de alunos e professores. Lamentavelmente, a política educativa em curso vai no sentido contrário, corta apoios e recursos, exclui os menos dotados, excluindo-os inclusivamente dos exames para não atrapalhar estatísticas de sucesso e alimenta desigualdade e a falta de equidade e igualdade de oportunidades.
Não Sr. Dr. especialista em Economia da Educação, chumbar, só por chumbar, não produz qualidade na educação. Aliás, dado interessante para um especialista em Economia da Educação, a retenção sem sucesso posterior tem um custo economico brutal. 

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