AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 30 de novembro de 2014

GALINHA DO CAMPO NÃO QUER CAPOEIRA

Neste sábado, depois da lida no Monte e como sempre eu e Mestre Zé Marrafa ficámos um tempinho nas lérias.
Comentávamos como este tempo seguido de chuva não deixa trabalhar na terra.
O Mestre Zé contou que dado que não tinha ido trabalhar foi visitar a família a Évora. O problema é que embora goste da família uma tarde em Évora  ... é demais.
Como ele diz, “é bem verdade, galinha do campo não quer capoeira”. Ele não se imagina a viver assim numa terra grande, aqui na vila, vem ao monte, tem sempre alguma coisa que fazer, sobretudo plantar alguma coisa na horta que é o que mais gosta. Achei muita graça à descrição do Mestre Zé sobre o seu incómodo com a cidade grande, “sei lá, o corpo não se encontra”, “parece que estou perdido”, “parece assim uma prisão” e outras considerações que não fixei.
Conhecendo o Mestre Marrafa, dá para entender este discurso. Os olhos pequeninos brilham quando fala do que vai fazer, dos criadores, das enxertias, dos bogangos, dos frades, da necessidade de fabricar a terra para o “çabolo” de que eu tenho que comprar a semente, dos rábanos enormes que lá temos, e das “alfaças”, das couves que apesar de dividirmos as folhas com as codornizes sabem bem mas bem, da desmoita dos pés-de-burro das oliveiras e da sua limpeza que nos garante lenha para o inverno, da quantidade de azeitona, dos enxertos, arte em que é mestre. da minha falta de jeito para charruar sem deixar desviar o tractor, etc.
Às vezes, penso como sou um privilegiado com um campo, o meu Monte, para ir quando saio da cidade grande. Pena é que muitas pessoas, sobretudo miúdos, já não saibam o que é “o campo”, e, por isso, não podem, por vezes não querem e outras vezes não sabem, sair da capoeira.

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