Conforme determinação do MEC, os alunos do 9º ano realizarão
uma prova nacional de Inglês que no entanto não se configura como os exames
nacionais que são apenas realizados a Português e Matemática.
Segundo o MEC, citação do Público, “não há qualquer relação
formal entre a classificação do teste de diagnóstico (esta prova de Inglês) e a
classificação interna", ou seja, o resultado não terá de se reflectir obrigatoriamente
na avaliação dos estudos.
“No entanto, as escolas podem utilizar a informação gerada
por estes testes da forma que considerarem mais adequada para a promoção do
sucesso dos alunos, à semelhança do que sucede com os testes intermédios".
Sintetizando, os alunos realizam as provas e a escola decide
como utilizar os resultados obtidos, quer na regulação e ajustamento do
trabalho de alunos e professores, quer no impacto no percurso avaliativo dos
alunos.
Conforme muitas vezes tenho afirmado, discordo do
entendimento dos exames como uma “poção mágica”, uma panaceia que só por
existir, promove a qualidade de trabalho de alunos e professores. A progressiva
institucionalização de mais exames corre o risco de tornar o trabalho escolar em sala de
aula “centrado” na preparação dos alunos para os exames, como aconteceu em
muitíssimas situações durante o terceiro período do 4º ano de escolaridade no
ano lectivo anterior, só para exemplificar. Aliás, este risco foi sublinhado
pela OCDE em relatório de há meses sobre a avaliação no sistema educativo
português.
É evidente que a qualidade promove-se, deve sublinhar-se,
com a avaliação
rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também
com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos
adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores
eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem
um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e
funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio
prazo, etc.
Neste cenário, o modelo agora proposto para a disciplina de
Inglês parece-me mais interessante. Realizam-se as provas e as escolas, no
exercício da sua autonomia, o que me parece de sublinhar dada a prática
centralista do MEC, utilizarão os resultados da forma que lhes parecer mais
útil no sentido de promover a qualidade do trabalho de alunos e professores. Assim tenham as escolas, os meios e os recursos para operacionalizarem eficazmente os ajustamentos que venham a ser considerados necessários.
No fundo, este modelo replica, de certa forma, o que
acontecia com as provas de aferição e os actuais testes intermédios, que
procuram constituir-se como ferramentas reguladoras dos processos de ensino e
aprendizagem não subordinando “exclusivamente” estes processos à realização de
um exame visto como o Objectivo fundamental da aprendizagem e não como uma
ferramenta.
Nesta perpectiva e ainda que esta realização não tenha de assumir
um carácter obrigatório, pode realizar-se por amostragem nas escolas por
exemplo, talvez outras áreas disciplinares possam ser envolvidas nestes
dispositivos de avaliação reguladora.
PS - Segundo o Expresso, Nuno Crato informou que esta prova será realizada pela Universidade de Cambridge e será patrocinada por um banco (o BPI), duas empresas de produção de software (GlobeStar Systems Inc. e a Novabase) e ainda pela Porto Editora.
Dado que, como se costuma dizer, "não existem almoços grátis", tenho alguma dificuldade em entender este envolvimento. Talvez daqui a uns meses fique mais claro.
PS - Segundo o Expresso, Nuno Crato informou que esta prova será realizada pela Universidade de Cambridge e será patrocinada por um banco (o BPI), duas empresas de produção de software (GlobeStar Systems Inc. e a Novabase) e ainda pela Porto Editora.
Dado que, como se costuma dizer, "não existem almoços grátis", tenho alguma dificuldade em entender este envolvimento. Talvez daqui a uns meses fique mais claro.
na minha opinião isto devia influir no resultado dos estudos dos alunos visto esta lingua ser a mais falada a nivel mundial e é indespensavel para o futuro!
ResponderEliminarhttp://ocarteiravazia.blogspot.pt /
A questão do meu ponto de vista, não é a necessidade do inglês, que não é discutível. A questão é qual o papel dos exames nos processos de ensino e de aprendizem. Só medir o resultado desses processos, só por si, não os altera quando não correm bem. Os exames são, evidentemente, necessários mas, só por si insisto, como, escrevi, não são uma poção mágica
ResponderEliminarDeixo-vos uma história
ResponderEliminarUma criança que corre o risco de reprovar o ano no 6º ano novamente por causa de 2 pontos. Estou a reclamar pela segunda vez ao júri porque segundo as tabelas de correcção os professores especialistas seguem as regras gerais de correcção e não as específicas. As escolas demitem-se e não dão qualquer apoio ás familias e dizem que é tudo com o Ministério, o que me leva a pensar naquelas famílias que não têm acesso ou possibilidades de conseguir dar todos os passos exigidos para uma reclamação de um exame, sim porque é necessário tirar uma formação de correcção de exames . As crianças são espertas e este aluno que estudou um ano inteiro, sem qualquer negativa a Português vai reprovar o ano porque já tinha duas negativas. Criam um júri á parte para decidir a vida de uma criança sem contar com o esforço, sim repito esforço dum ano lectivo inteiro porque para uma criança estar na escola com estas metodologias e regras é necessário esforço para recuperar e continuar a acreditar.O ministério com estes exames tira a responsabilidade de um trabalho de um ano inteiro, a professores que se preocupam com os seus alunos.
Um bom exemplo da sobrevalorização do papel dos exames.
ResponderEliminarDeixo-vos a carta que fiz ao júri que ainda não tive resposta, mas que o aluno já me deu. Deixa não vale a pena lutar e reclamar só te chateias eu começo a estudar só para os exames. Para se ter noção de que não existe alguém que proteja as crianças em Portugal deixo-vos a carta que enviei ao júri que não conhece os percursos nem a parte emocional e o impacto que a reprovação tem na criança que fez um esforço durante o ano lectivo.
ResponderEliminarTendo passado por um processo de reclamação, não concordamos com o último parecer e as fundamentações emanadas pelo especialista.
Consideramos que no grupo I item 3 de acordo com os critérios específicos de classificação e segundo os níveis de desempenho, o aluno indica apenas um acontecimento e por isso, deverá ser atribuída a classificação um (1) ponto.Para obter a classificação zero (0) pontos o aluno teria que ter dado outra resposta o que não aconteceu.O aluno transcreve apenas um acontecimento, contudo identifica o acontecimento no texto e segundo os critérios gerais de classificação nos itens de construção, organizados por níveis de desempenho, é atribuída, a cada um desses níveis, uma dada pontuação. No caso de, ponderados todos os dados contidos nos descritores, permanecerem dúvidas quanto ao nível a atribuir, deve optar-se pelo nível mais elevado de entre os dois tidos em consideração.
No grupo I item 5 de acordo com os critérios específicos de classificação e segundo os níveis de desempenho, onde é pedido para transcrever a personificação o aluno transcreve a expressão, com alguma fidelidade, mas não respeita na totalidade as normas de transcrição, por isso deverá ser atribuída a classificação de dois (2) pontos.Para obter a classificação de zero (0) pontos o aluno teria que ter dado outra resposta, o que não aconteceu.
Neste item, os critérios gerais de classificação apresentados pela especialista, considera-se que não se aplica a este tipo de resposta, sendo esta de carácter restrito e de regras gramaticais deveria ter sido dada a atenção aos critérios específicos de classificação e aos cenários de resposta, que se consideram como orientações gerais, visando uma aferição de critérios, uma vez que o aluno vai ao encontro dos cenários de resposta nos mesmos critérios específicos de classificação.
Tendo em conta a realização da prova, as reclamações efetuadas á correção da prova e ao facto de nos estarmos a aproximar do início do ano letivo, sem sabermos se o aluno estará ou não mais uma vez reprovado, saliento que uma das minhas preocupações é o impacto emocional que uma reprovação implica numa criança.
Uma das minhas preocupações é lançarmos um olhar mais aprofundado, sem desgastar o assunto, sobre o universo da reprovação.
A reprovação é muitas vezes tida como uma forma de exclusão nas nossas escolas. O aluno que é reprovado sente-se excluído da escola, lugar em que vai buscar a aprendizagem e ao chegar lá, quando não consegue acompanhar o ritmo dos professores e da própria escola é reprovado, quantas vezes for necessário. Acredito que a escola deva ser o lugar onde o aluno possa sanar as suas dúvidas e aumentar seu conhecimento, pois é para isso que vai até ela. O aluno que é reprovado mais de uma vez tem mais probabilidade de ser um desistente.
Em boa parte, por saber que será fatalmente reprovado ou por já ter passado por reprovações e estar desfasado em termos de idade com relação aos demais colegas, que o aluno abandona a escola.
ResponderEliminarNa verdade a escola precisa auxiliar o aluno com mais dificuldades para que este não se sinta rejeitado, e sim mais integrado na escola. O aluno precisa sentir-se incluído na turma, na escola, no todo, sabendo que ele faz parte deste todo e que sem ele a escola não terá razão de existir.
Muitas escolas excluem seus alunos com provas, que são instrumentos para classificar o aluno e nada mais. O conhecimento em si não pode ser medido por notas e se assim o fizermos estaremos a correr o risco, um grande risco de afastar este indivíduo da escola, pois a mesma não está preparada para avaliar as diversas inteligências e capacidades que o aluno tem. Se o estudante não se encaixa dentro daquilo que a escola quer, ele é taxado como não inteligente como alguém que não aprende, ou um “burro”. Quando reprovamos e retemos um aluno por dois pontos em que durante um ano letivo ele não apresentou nenhuma negativa na disciplina de Português nós reprovamos como seres humanos. Reprovando, reprovando, de tanto reprovar o aluno colocamos na sua mente que ele não sabe nada, sempre um perdedor, nunca consegue, e assim acabamos por confirmar que todo o esforço durante um ano letivo inteiro, não lhe valeu de nada.
Se os professores soubessem realmente as consequências emocionais, psíquicas que uma reprovação causa, acredito que pensaríamos muito antes de fazer isso. Depois de ter caminhado durante um ano, é muito doloroso o ter que retornar, repetir tudo de novo. O aluno é reprovado não só nas matérias, mas na sociedade, na família, no grupo de amigos. E isso só porque ele não conseguiu, em muitos casos, a média pré-estabelecida pela escola de dois pontos numa disciplina, em que a própria professora de Português referiu e viu o seu empenho durante o ano letivo. Neste aspeto deveria ser avaliada a caminhada do aluno num todo, buscando obter outros resultados tão significativos, na escola o professor, na família, nele mesmo. Tantas e tantas vezes o aluno é desqualificado por não ter apreendido uma matéria. Na hora da decisão deveria ser levado em conta, não apenas o conteúdo, mas deveria, verificar sua postura ligada à cidadania que o aluno tenha adquirido.
A reprovação não traz uma nova aprendizagem no ano seguinte, somente isto ocorrerá se o professor mudar sua metodologia.
Caso, o professor não se preocupe com a parte psicológica e emocional do seu aluno sem confiar nele e demonstrar essa confiança para o aluno, mostrando que ele é capaz de aprender, nada mudará para que a criança construa uma aprendizagem.
Como mãe quero alertar e pedir a vossa ajuda a fim de não se cometer uma injustiça, que pode ser extremamente violenta a nível emocional e motivacional para o percurso escolar do X.
Esperando obter uma atenção e compreensão ao assunto exposto, aguardo uma resposta o mais célere possível para poder iniciar um ano letivo de forma mais estável para o aluno.
Com os melhores cumprimentos,
Para mim são várias questões que se podem colocar nos exames. Depois conto-vos o final da história
É justamente por questões como as que levanta que tenho uma posição de forte reserva à forma como os exames são entendidos por parte de um MEC que pensa a escola como forma de selecção. Pode verificar no blogue o que tenho escrito sobre isto. É preciso não desistir.
ResponderEliminarBoa tarde, sem querer ser o advogado do diabo acho que temos que perceber que há um limite quantitativo para ser aprovado ou não. Por uma décima é-se campeão do mundo, somos os primeiros dos últimos ou reprova-se. É também educação saber que nem tudo se alcança sem esforço. Também reconheço que o nosso modelo de escola não é o ideal e sem querer ser preconceituoso (mas sendo) não podemos ser todos licenciados. Vivendo eu numa aldeia em que da minha turma de primária só eu sou licenciado e poucos têm sequer o 9º ano obrigatório, não me vejo em melhor situação do que aqueles que abandonaram a escola por incapacidades abstractas e dedicaram-se a uma arte (a maioria agricultura e outros a carpinteiros, pedreiros, construção civil...). E não é de ânimo leve que vou dizer isto mas às vezes é preciso dizê-lo com frontalidade: de que vale a pena andar a sacrificar um jovem adolescente a estudar e reprovar ano após ano passando pelo embaraço de chegar ao 9º ano com 18 anos e ainda ter que fazer 12º? Para mim é preferível vê-los a lutar pela vida ainda que seja com 14 anos, ao menos vão andar orgulhosos por se sentirem úteis nalguma coisa.
ResponderEliminarEsta é só a minha opinião e pode ser a mais descabida do mundo, mas tal como vos disse sou licenciado e tenho uma profissão de contacto com quase toda a minha aldeia (que tem 4000 pessoas - é grande) e vejo os da minha geração - que na altura puderam dizer que não queriam mais estudar mas antes trabalhar - estão bem. Desculpem a maçada deste desabafo.
O sonho desta criança é abrir uma estufa de plantas. Aos 10 anos de idade comprou uma estufa com o seu dinheiro. Já deu formação a crianças e adultos em escolas. Ele quer simplesmente aprender e a escola deve ser adaptada a todos Seja qual for o futuro desta criança eu só quero que seja feliz e neste momento ela não quer ir mais á escola, porque está magoada e ferida, porque eu vi e assisti ao esforço que ela fez durante o ano lectivo. Mas o mundo é feito de injustiças e a escola deveria ser na minha opinião inclusiva a todos e não selectiva porque existem crianças criativas a sofrer por causa de metodologias retrógradas. Não sei ainda a resposta deste juri mas com 13 anos ela está preparada para repetir o 6 ano pela terceira vez porque desistir é dar razão ao sistema que cada vez mais amonta crianças sem voz onde não podem sentir nem pensar simplesmente repetem matérias .
ResponderEliminarBoas noticias estou feliz fez-se justiça. Aprendemos uma grande lição vale a pena lutar . A criança e família está radiante com missão cumprida.Obrigado a todos pelas sugestões e apoio. Um final feliz :)
ResponderEliminarApós termos recebido da Direção Geral de Educação a informação de que foi dado provimento à reclamação de V. Exa., e uma vez que não conseguimos, durante todo o dia de ontem, estabelecer ligação com quaisquer dos contactos telefónicos que constam no processo do aluno, vimos por este meio informar que o mesmo foi colocado no 7º ano, na turma , devendo iniciar as aulas, na próxima segunda feira, dia 16 de setembro, no horário da referida turma.
Com os melhores cumprimentos,
A Chefe dos Serviços de Admin. Escolar
Felicidades para todos, vai correr bem, há que não desistir, por eles e pelos que vêm depois deles.
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