AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A AUSTERIDADE QUE GERA DESIGUALDADE

A ONG Oxfam considera no seu último Relatório que de uma forma geral as políticas de austeridade estão a gerar mais pobreza, sublinhando o caso de Portugal como exemplo de que as políticas seguidas beneficiam grupos sociais mais  favorecidos e aumentam significativamente as desigualdades.
A persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos da sua própria política "over troika", atingiram claramente o limite do suportável afectando gravemente as condições de vida que muita gente está enfrentar. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas.
Parece de relembrar que um estudo de 2011 da insuspeita, nesta matéria, Comissão Europeia que analisou a distribuição dos efeitos dos programas de austeridade, os países que experimentam maiores dificuldades, Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido, conclui que Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", traduzindo, os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Pode ainda ler-se que nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível.
Portugal é ainda o único país analisado em que "a percentagem do corte (devido às medidas de austeridade) é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.
Este dado parece-me extremamente relevante para se perceber o quanto é insustentável a persistência neste caminho e no apregoar de que existe equidade na repartição dos sacrifícios, entendimento que, creio, ninguém na sociedade portuguesa consegue honestamente sustentar.
Na verdade, o caminho decidido, por escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar assimetrias sociais e certamente produzir mais exclusão e pobreza. Mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
É evidente que não existe equidade na repartição dos sacrifícios como relatório da Oxam evidencia. Para além de contrariar o discurso oficial de que existe justiça social nas medidas de austeridade, o que a notícia tem de mais preocupante é a constatação de que as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza.
Também sei, sabemos todos, que os mercados não têm alma nem ética mas a liderança que transforma é uma liderança com responsabilidade social e com sentido ético.
Não basta proclamar equidade e justiça, é preciso promovê-las, mesmo. 
 

1 comentário: