Estas notas estavam escritas desde quinta-feira
passada mas, intencionalmente, quis deixar passar uns dias para que tudo serenasse
um pouco.
Aqui bem perto, aconteceu mais uma tragédia, um
menino de quatro anos caiu de uma varanda e não sobreviveu. Mais um episódio a
acrescentar aos que regularmente se vão sucedendo. A criança, ao que parece,
estava vestida de “Homem Aranha” mas apesar de muitos miúdos serem uns
super-heróis de resistência, este não sobreviveu. O povo costuma dizer que “ao
menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo". Desta vez também não
aconteceu.
Tivemos assim mais uma tragédia. De acordo com a
Associação para a Promoção da segurança infantil, em dez anos, mais de 100
crianças morreram e 40 mil foram hospitalizadas devido a quedas, grande parte
das quais em edifícios (varandas ou janelas) e quedas de escadas.
Também as piscinas continuam anualmente a ser
palco de acidentes com enorme gravidade ou fatais.
Continuamos a ser um dos países europeus em que
acontecem maior número de acidentes domésticos com crianças. Nas mais das vezes
verifica-se alguma negligência ou excesso de confiança da nossa parte, adultos,
na vigilância dos miúdos a que se junta a inexperiência e o à vontade próprios
dos mais pequenos.
A dor e a culpa que alguém pode carregar depois de
episódios desta natureza serão, creio, suficientemente fortes para que deixemos
de lado o aspecto da culpabilização que aqui nada acrescenta e, também por
isso, adiei a divulgação deste texto.
O que me parece importante sublinhar é que num
tempo em que os discursos e as práticas sobre a protecção da criança estão
sempre presentes, também se verifica um número altíssimo de acidentes, por
vezes mortais, o que parece paradoxal. Por um lado, protegemos as crianças de
forma e em circunstâncias que, do meu ponto de vista, me parecem excessivas e,
por outro lado, em muitas situações adoptamos atitudes e comportamentos
altamente negligentes e facilitadoras de acidentes que, frequentemente, têm
consequências trágicas.
E não adianta pensar que só acontece aos outros.
Desde há alguns que assisti na minha prática profissional ao que afirmou ser a preocupação crescente com a protecção das crianças. Com estruturas como as CPCJ's, as EMAT's, os CAFAP´s. Todas importantes, mas o trabalho de prevenção, na relação com as famílias nos locais das suas rotinas (creches, escolas, centros de saúde...)não tem acompanhado o trabalho desenvolvido após ser detectado um risco. O tempo para as relações entre pais e profissionais dos contextos onde estão as crianças a maior parte do seu dia, e o olhar atento e treinado destes profissionais fariam diferença na minha opinião. Não é sua função??? Como se poderá apoiar o desenvolvimento ou ensinar uma criança que caiu da varanda e morreu?
ResponderEliminarComo costumo dizer, temos os dispositivos (insuficientes), temos as leis mas ainda nos falta uma verdadeira cultura de protecção dos miúdos
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