O Público de hoje, a propósito da situação de um cidadão francês
com deficiência significativa, aborda uma questão que para a maioria de nós
passa despercebida mas que, no entanto, é de extrema importância para muitas
pessoas com deficiência. Trata-se das questões relativas à sexualidade.
Este cidadão reclama algo que se pode designar por reconhecimento do direito a
“assistência sexual” e que se pode traduzir pela aceitação de uma “prostituição
voluntária”, ou seja, a existência de voluntários e voluntárias que
proporcionassem assistência sexual a pessoas que dada a sua condição de deficiência e por
razões muito variadas não encontram parceiros sexuais.
Como muitas vezes aqui tenho referido, algumas das questões
que respeitam às condições de vida das pessoas com deficiência envolvem mais os
valores das comunidades que questões de natureza técnica ou funcional. No caso
mais particular da sexualidade, a situação é ainda mais permeável a valores
devido, obviamente, à forma como é percebida esta dimensão da nossa vida e a
multiplicidade de ideias e valores de que é objecto.
São conhecidas as situações, aliás, já abordadas na
comunicação social, de recurso por parte de deficientes à prostituição como
forma de aceder a algo que naturalmente faz parte da globalidade do ser humano,
a actividade sexual. Este recurso à prostituição, alvo de forte discussão, é
ainda visto de forma diferenciada e mais discutida, consoante se trate de
homens ou mulheres. Estas questões, tal como agora em França, suscitam sempre
um forte debate decorrente do entendimento da prostituição e dos valores morais
e éticos envolvidos. Este cidadão francês que também acusado de fomentar a
prostituição introduz como dado novo a ideia de voluntariado.
É minha convicção de que o debate agora na agenda não será
conclusivo. Apenas me parece de sublinhar que algumas das posições podem ser
informadas por alguma hipocrisia com que, frequentemente as questões da
prostituição e da sexualidade são encaradas e, sobretudo, a necessidade de
estarmos atentos a um enorme equívoco que com muita frequência enuncio, sexualidade
e deficiência não significa de todo deficiência na sexualidade.
Como sempre afirmo, um dos mais fortes indicadores de desenvolvimento
das comunidades é a forma como percebem e lidam com os problemas das minorias.
Caro Professor,
ResponderEliminarHá uns anos atrás tive a oportunidade de dar formação numa CERCI a monitores que trabalham com pessoas com deficiência. Estamos a falar de pessoas que trabalham todos os dias no terreno sobretudo com deficiência mental.
Um dos monitores advogou que alguns dos seus utentes com debilidades mais ligeiras deviam ter a oportunidade de ter uma vida sexual regular e satisfatória. Se para isso acontecer fosse necessário o recurso à prostituição essa poderia ser uma solução viável.
Embora as minhas lides sejam outras, como aliás sabe, o que o monitor me transmitiu faz-me um certo sentido.
Deixo apenas duas observações que considero importantes: muitos destes utentes têm pais cuja grande preocupação é quem irá tomar conta do meu filho quando eu não puder ou falecer. Mas acontece outra situação, tendem a infantilizar os filhos já adultos, e isso nota-se nomeadamente na maneira como os vestem. E quero deixar bem claro que isto não é uma crítica a estes pais porque só quem passa por elas é que sabe. Não sei até que ponto muitos destes pais estarão receptivos a uma vida sexual dos filhos.
Por outro lado a sexualidade e o acto sexual não são puramente físicos e envolvem um significado emocional com que todos sem excepção temos de lidar.
Não sendo um caso similar ao relato do público é um caso que me apeteceu partilhar consigo e com todo o auditório da atentainquietude.
Acho que é um tema em que vale a pena a sério.
Abraço
António Caroço
Olá António, trata-se na verdade de uma questão complexa. Quanto aos pais, lidei com situações em que os pais "negavam" a sexualidade dos filhos(as) e de pais que se sentiam enorme dificuldade em lidar com problema que eles percebiam existir mas não sabiam como lidar. Conheci situações em que os pais mediaram o recurso à prostituição (estou a falar de rapazes, e das raparigas?) ainda que cheios de "culpa" e envergonhados de o referirem
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