AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

OS PEDINTES E OS POBRES

A propósito do devastador temporal do último fim de semana e das reportagens que se seguiram e repetiram, fiquei a pensar como tão facilmente de há umas décadas para cá qualquer coisa que aconteça em Portugal ou mesmo qualquer coisa que não aconteça, logo faz emergir um grupo de pedintes, de pessoas que pedem apoios ou subsídios.
É óbvio que compreendo o drama que se abate de forma inesperada sobre muitas pessoas e famílias e entendo que surjam imediatamente os pedidos de apoio, algumas vezes justificados.
A questão é a excessiva dependência criada e alimentada desses apoios e subsídios e que sustentam os pedintes de todas as naturezas e escalas. Reparem.
Logo no início da actual crise surgiu um inesperado grupo de pedintes, os banqueiros, que pediram ajudas e apoios de modo a fortalecer o sistema financeiro e a resistir aos testes de stresse. Claro que estes pedintes obtiveram as ajudas necessárias, o último caso foi o do Banif que recebeu uma ajudazinha na recapitalização.
No entanto e na verdade os pedintes são mesmo de todas as condições, escalas e justificações.
Se chove aparecem os pedintes por causa da água a mais, se não chove surgem os pedintes por causa da seca. Se faz vento temos pedintes por causa das consequências do vento.
Os inquilinos são pedintes por causa das rendas, mas os proprietários são também pedintes e pelas mesmas razões.
Pedimos apoios e subsídios para tudo e mais alguma coisa. Provavelmente não existirão actividades que não abriguem pedintes.
Creio mesmo que dificilmente algum de nós não integrará um grupo de pedintes.
Por outro lado, a mesma vida que produz os pedintes, também tem produzido os pobres, muitos pobres e muito pobres.
A diferença é que muitos dos pedintes não são pobres e muitos dos pobres não pedem, não são pedintes. A dignidade que ainda mantêm não lhes permite.

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