Já não vai sendo fácil contabilizar as afirmações de
governantes que, a propósito das mais variadas situações, quase sempre de
dimensões de mal-estar e fragilidade na vida das pessoas, são de uma insensatez
e insensibilidade notáveis e graves, bem entendido.
Desta vez o Secretário de Estado Adjunto da Saúde, Leal da
Costa, afirmou que algumas terapias para o cancro “de eficácia duvidosa”
poderiam deixar de ser financiadas. Quando li a notícia, fiquei curioso sobre
esta ideia da “eficácia duvidosa”. De imediato pensei na actividade dos
curandeiros mas tinha a convicção de que estas abordagens “terapêuticas” não são
financiadas pelo SNS. O Secretário de Estado precisa que se trata de considerar
se se devem realizar actos médicos, cirurgias por exemplo, que apenas
prolonguem a vida dos doentes por pouco tempo, assim mesmo, é mais eficaz e,
sobretudo barato, deixar morrer logo, é só poupança.
Esta afirmação recorda a famosa intervenção de Manuela
Ferreira Leite sustentando que as pessoas com mais de 70 anos deveriam suportar
elas os custos da hemodiálise, os velhos são uma carga inútil para o SNS, uma
outra pérola do mais fino recorte científico, moral e ético.
A afirmação do Secretário de Estado foi fortemente
contestada quer pelo Bastonário da Ordem dos Médicos quer por elementos de
Associações de doentes como não podia deixar de ser.
Será que esta gente não consegue entender que os problemas
das pessoas devem ser abordados com, no mínimo, respeito pela sua dignidade e
dos seus familiares? Estamos a falar de pessoas em situação particularmente
vulnerável.
Sabemos que os tempos não estão fáceis e que exigem
contenção. Mas sabemos, sentimos, que boa parte das políticas, sendo amigas do
défice, ainda assim sem grande resultado ao que se conhece, sendo amigas dos
mercados, são inimigas das pessoas, fazem mal às pessoas, mesmo algumas das
políticas de saúde.
A afirmação do burocrata Leal da Costa, ao que parece
médico(!), é apenas mais uma daquelas que são proibidas e que numa terra de
líderes políticos com espinha, exigiria, pelo menos, um pedido de desculpas.
No meu caso já fui deixado a morrer sozinho. Após 3 anos de tratamentos começaram primeiro por suspender os tratamentos com o argumento de necessitar de fazer exames. Depois foi um adiar sucessivo do exame, que se prolongou por 3 meses, e só foi realizado quando comecei a reclamar denunciar a situação. Seguiu-se a proposta para um tratamento mais barato. Proposta que recusei porque já se verificou que não resulta. Era o mesmo que, aplicado à 2 anos, levou a um agravamento. No inicio do mês passado disseram que nada mais podiam fazer, que o meu estado clínico se tinha agravado, e que devia vir para casa aguardar pela morte. Vou com 7 (sete) meses sem tratamento efectivo. Resultado: um caso que estava estabilizado sofreu um agravamento nos últimos 4 meses perfeitamente evitável.
ResponderEliminarAgora ainda estão a dificultar a entrega de um relatório clínico para uma segunda opinião.
Tudo isto no Hospital da Universidade de Coimbra.
Começo a achar que nos estão a condenar lentamente.... e o pior é que "nós" achamos que estão com a razão toda para o fazerem!!
ResponderEliminarO nosso SNS não se preocupa com doentes, e tem dias que tenho a sensação que os médicos que o fazem são perseguidos. Neste momento o que interessa são números, mas números relacionados com cifrões e não de pessoas que se conseguiu ajudar e salvar.
Triste destino a nos conduzem, não é fácil adoecer muito mais tenebroso é adoecer neste país.
Os tempos vão de chumbo
ResponderEliminar