Num assomo de caridade e generosidade, o Governo decidiu aumentar a Sopa dos Pobres. Obrigado Senhores.
Segundo notícia do Público, serão assinados esta semana cerca de 100 contratos com várias instituições sociais para criarem as cantinas sociais, uma etapa para chegar às cerca de 900, o número previsto no PES – Programa de Emergência Social.
Esta iniciativa é uma fortíssima acusação aos modelos de desenvolvimento a que nos sujeitámos e sujeitaram. Certamente algumas famílias vão beneficiar da medida, óptimo, mas é algo de degradante e uma afronta à dignidade, seria um dedo apontado à consciência ética de muitos, se a tivessem, evidentemente.
Curiosamente e a propósito de alimentação e carências gostava de recordar uma notícia de há algum tempo.
O Parlamento Europeu aprovou um relatório segundo o qual a União Europeia que tem 79 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, 15,8% da população, e desperdiça anualmente cerca de metade do que consome em alimentos. Este desperdício corresponde a 89 mil milhões de toneladas, um número verdadeiramente assombroso. O Parlamento Europeu estabelece como objectivo para a Comissão reduzir em 50% o desperdício até 2025.
Relembro que 2010 foi o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão e o resultado está à vista, 79 milhões de pobres, cerca de 2,7 milhões em Portugal. Parece-me ainda oportuno recordar que há uns meses, também a Comissão Europeia publicou um relatório mostrando como as medidas de austeridade em Portugal estão a agravar as assimetrias sociais e, de forma extraordinária, o Primeiro-ministro já avisou que o caminho é o empobrecimento.
Quando tanto se fala de produtividade, em nome da qual, se ameaça a dignidade das pessoas e se lhes piora as condições de vida talvez fosse altura de também nos centrarmos no desperdício e nos seus efeitos devastadores.
Neste quadro releva a necessidade urgente de ponderar os modelos de desenvolvimento económico e social, combater desperdícios consequência desses modelos, diminuir efectivamente o fosso intolerável entre os mais ricos e mas pobres, caminhar no sentido da construção de uma dimensão ética que seja reguladora da atribuição de privilégios incompreensíveis e obscenos para poucos e tolerância face a situações de exclusão extrema para bastantes outros.
Enquanto não, aceitemos a generosidade e caridade que haverá de salvar as almas dos decisores que, sem um sobressalto, oferecem a sopa aos pobrezinhos. Obrigado Senhores.
Eu sei que escrever sobre estas questões em espaços desta natureza tem alcance zero, mas continuo convencido que é fundamental não deixar cair a preocupação, talvez seja melhor chamar-lhe a indignação, com a pobreza e exclusão. Por isso, a insistência e desculpem qualquer coisinha.
Obrigado Senhores
Uma sociedade que se baseia na caridade em vez da solidariedade está condenada ao fracasso.
ResponderEliminarEntretanto o Pedro Mota Soares vai de Vespa e a Assunção Cristas reza.
Abençoados sejam os pobres de espírito porque é deles o Reino dos Céus.
Abraço
António Caroço
Na Idade Média e na Idade Moderna o povo português era composto por pedintes, enjeitados, doentes, desgraçados e esfomeados.
ResponderEliminarNa idade contemporânea estamos claramente num processo retrocessivo.
Antes, o clero e a nobreza era classe dominante. Agora quem domina é os políticos e o grande capital.
A não ser nas tecnologias, não vislumbro grandes diferenças nestas três Idades.
Agradeço ao casal que em 1910 fundou a sopa dos pobres como forma de comemorar o aniversário de uma filha.
Do poder político espero apenas que me espremam até à última borbulha e do capital que continuem a explorar-me como o têm feito até aqui.
saudações