A propósito do lançamento de um novo livro de Elísio Estanque, o Público refere-se às dificuldades que afectam grupos sociais que se julgavam defendidos e imunes ao risco de pobreza, são os "novos pobres". O sociólogo alerta para o risco de "implosão" da classe média, algo de verdadeiramente preocupante.
Curiosamente, há algum tempo atrás escrevi para este espaço um texto que, por coincidência, titulei "Novos pobres" do qual retomo algumas notas que me parecem oportunas.
De facto, temos vindo a assistir à emergência de "novos pobres", muitos milhares de pessoas que apesar de terem emprego têm salários extremamente baixos e que, mercê dos cortes e aumentos realizados e prometidos, se sentem e vivem numa condição de pobreza não antecipada pelo que cresceram exponencialmente os casos do que se pode chamar de “pobreza envergonhada”, devido, naturalmente, aos níveis de desemprego mas também decorrentes, à falta de qualidade do emprego, aumento de impostos e perdas salariais. São pessoas que se julgavam a coberto deste tipo de riscos e que sentem um embaraço pessoal e social enorme para assumir as dificuldades porque passam.
Este cenário é absolutamente extraordinário. Para além das consequências óbvias das dificuldades ainda se torna necessário, como várias vezes aqui tenho referido, acautelar a dignidade das pessoas afectadas. De facto, umas das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas. Sabemos que se verifica oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas a esmagadora maioria das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
É neste quadro, a forma como a dignidade está ameaçada, para além do óbvio impacto na qualidade de vida das pessoas que me parece importante e pertinente a reflexão hoje divulgada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de dois milhões de portugueses sentem e o facto também conhecido de que um terço das famílias têm um orçamento encostado ao limiar de pobreza, exigem uma recentração de prioridades e políticas que não se vislumbra.
A envergonhada pobreza deveria envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera. A questão da pobreza tem uma dimensão ética incontornável a que as lideranças responsáveis e preocupadas com as pessoas e não com os mercados, não poderiam deixar de estar atentas.
Muito oportuno este texto.O mundo está a desabar para milhares de famílias.
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