AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 29 de janeiro de 2012

OS PAIS CARREGAM OS FILHOS ÀS COSTAS

Em primeira página no JN pode ler-se, "Escola sem elevador obriga mãe a carregar filho às costas". Bom, pensei, carregar o filho às costas pode fazer parte do que costumo chamar de "trabalho de mãe", pelo que não percebi muito bem o porquê da notícia, para mais em primeira página.
A questão, a leitura da notícia esclarece, é que o gaiato usa cadeira de rodas e o elevador da escola, em Gondomar, está avariado há três meses, isso mesmo, há três meses. Para que o filho continue a frequentar as aulas a mãe carrega-o às costas. Não é grave, mãe é para isso mesmo e o exercício dá saúde.
Este episódio junta-se a um outro também curioso. Uma escola pública de Lisboa passou a exigir aos pais de uma menina com deficiência e que, segundo relatórios de avaliação, precisa de terapia da fala, o pagamento à hora pela utilização de um espaço da escola onde a terapeuta, paga pelos pais, pudesse apoiar a criança. A Directora da Escola, num discurso de enorme sensibilidade e lucidez, esclarece que terapia não é educação, que “é um problema pessoal de logística dos pais, a quem dá jeito deixar a criança na escola e que a terapeuta lá se desloque”, acrescentando, “Isto é o mesmo que eu precisar de uma costureira para me arranjar a roupa e pô-la a trabalhar aqui na escola”. Não é grave que a senhora diga isto, trata-se de liberdade de opinião, é grave que seja directora de uma escola alguém com esta visão e capacidade de entendimento dos problemas de miúdos e pais. Também aqui a escola entende que os pais devem carregar os filhos às costas, é para isso que são pais.
Devo dizer, e não me orgulho disso, de que nenhum destes episódios me surpreende.
As crianças com necessidades especiais, as suas famílias e muitos dos professores e técnicos sabem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades para, no fundo, garantir não mais do que algo básico e garantido constitucionalmente, o direito à educação e tanto, quanto possível, junto das crianças da mesma faixa etária. É assim que as comunidades estão organizadas, pelo que não representa nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Como é evidente, em situações de dificuldade económica, as minorias, são sempre mais vulneráveis, falta-lhes voz.
Como sempre afirmo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como cuidam das minorias. Lamentavelmente, estamos num tempo que em que desenvolvimento se confunde com mercados bem sucedidos.

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