AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

OS PERGUNTADEIROS

O Velho Marrafa que trabalha comigo lá no monte, no Meu Alentejo, tem uma particularidade que me diverte e me faz meter com ele para ficarmos nas lérias. Detesta que lhe perguntem se sabe fazer qualquer coisa. É claro que só para ver aqueles olhos a brilhar, lhe pergunto amiúde antes de qualquer tarefa se ele a saberá fazer. Percebe que é mangação e já não liga.
Explicou-me que ter aprendido a fazer tanta coisa dentro daquela lida e que o levou a mil ofícios, sempre me espanta o que ele sabe e fez na vida, se deve a ter sido sempre muito perguntadeiro, desde gaiato, quando começou a trabalhar aos nove anos a guardar porcos.
Diz ele que estava sempre a fazer perguntas, às vezes até aborrecia as pessoas, mas queria saber tudo e como é que tudo se fazia.
O Velho Marrafa tem razão, a gente aprende mais quando faz perguntas.
No entanto, temos vindo a entrar num tempo em que parece que as perguntas caíram em desuso, toda a gente tem respostas, toda a gente tem a verdade das coisas, não temos paciência para ouvir as perguntas, queremos dar respostas. Mesmo nas escolas em muitas salas de aula, as perguntas nem sempre são bem recebidas, os alunos estão para saber respostas, não para fazer perguntas. Os miúdos, sem terem feito perguntas, muitas vezes não sabem o que fazer com as respostas.
Acho mesmo que só alguns perguntadores profissionais, gente que se dedica à investigação ainda faz da pergunta a ferramenta para encontrar respostas.
Nós, a grande maioria, estamos a desistir das pergunta, queremos respostas.
O problema é que dar respostas sem fazer perguntas, só por acaso é que se acerta.
Há que ser perguntadeiro, como diz o Velho Marrafa que só estudou até à terceira classe.

1 comentário:

  1. Perguntar revela ignorância. Daí as pessoas serem comedidas na utilização deste verbo transitivo.
    Demonstração de falta de saber afecta as pessoas de uma maneira geral. Sentem-se fragilizadas ou subalternizadas. NADA MAIS ERRADO!

    Mas até compreendo, porque por vezes quem dá a resposta toma posição de erudito superior e altaneiro, em relação a quem faz a pergunta. Esquecem-se que a ignorância é propriedade inalienável de todos os homens.

    O Senhor Marrafa fez (e faz) muito bem em ser perguntão ou "perguntadeiro" como ele diz na sua terminologia Alentejana.

    Quanto mais perguntas ele fizer, mais exponencialmente aumenta a sua sabedoria.


    saudações

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