AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A CIDADANIA DO ESQUEMA

Um estudo do Observatório de Economia e Gestão e Fraude da Universidade de Economia do Porto revela que o peso da chamada economia paralela no PIB é de 22% em Portugal. Envolve cerca de 22 000 milhões de euros. Em termos comparativos a média na OCDE é de 16.3 e nos Estados Unidos de 8.4.
É de facto um valor impressionante mas não surpreendente. O esquema faz parte da nossa cultura e, provavelmente teríamos dificuldade em viver sem o esquema, a qualquer escala.
Quem de nós não se confronta diariamente com o servicinho feito sem recibo, "ó chefe c'o papelinho é mais caro por causa do IVA". Certamente que nalgum consultório já nos perguntaram se queremos o recibo ou não para decidirem quanto nos cobram. E são naturalmente, conhecidos os esquemas de grande escala de que o processo em curso Face Oculta é um bom exemplo.
Esta cultura do esquema que legitimamos implícita ou explicitamente com discursos desculpabilizantes do tipo, "já descontamos tanto que não preciso do recibo", "os impostos são para eles se encherem", "pá, um gajo tem que se desenrascar", ou a quase indiferença e alguma pontinha de inveja face aos negócios e lucros provenientes dos esquemas, que só condenamos nos outros, para além dos óbvio efeitos do ponto de vista económico, são um bom indicador da nossa vida cívica e do entendimento da cidadania, a cidadania do esquema.

2 comentários:

  1. Não será tambem uma forma de crítica para com o mau uso dos dinheiros públicos? Temos um "poder" arrogante e autoritário. O que fazer senão continuar a resistir na clandestinidade? A fuga ao fisco é em Portugal é uma forma activa de participação na vida cívica como é nos países escandinavos a denúncia de alguem que fugiu ao pagamento dos impostos.

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  2. Em regimes democráticos o poder e a cultura podem mudar-se, ainda que não seja fácil

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