AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

MÉDICOS E PATOS

Rendo-me. Há coisas que não sou mesmo capaz de entender. Dois exemplos.
Primeiro. O Código Deontológico dos médicos define a prática de aborto como “falha grave”. Se entendermos o papel de um código deontológico, um médico que realize aborto cairá necessariamente num comportamento sancionável. Uma vez que a lei em vigor permite, dentro dos limites estabelecidos, a sua realização, cria-se uma situação estranha. Como este acto clínico precisa de acompanhamento médico, está a obrigar-se um profissional a cometer um “falha grave”. Como a lei também prevê a objecção de consciência, parecia então razoável que o Código Deontológico fosse ajustado a um novo quadro legal tal como é entendimento da Procuradoria-Geral da República. Mas não, o Bastonário da OM, Dr. Pedro Nunes, acha que em princípios e valores não se toca pelo que o Código não deve ser alterado e afirma que o médico que realizar um aborto não será sancionado. Não dá para entender. O Código proíbe algo que é legal, mas se alguém praticar, não acontece nada. Então para que raio serve um Código se não é para cumprir. Saberá certamente o Bastonário que a escravatura e o racismo, por exemplo, já foram “valores” e agora são crimes. É Senhor Bastonário, por estranho que lhe pareça, o mundo move-se.
Segundo. Foram importados patos de Inglaterra oriundos de locais onde foi detectado o vírus da gripe das aves. Também não entendo. Fomos importar patos de “patário” com risco de doença, quando temos em Portugal uma fortíssima reserva de “patos-bravos”. Não vale a pena importar patos de plástico quando os temos bravos. Estão acessíveis no país inteiro com predomínio das cidades e do litoral onde também reside a maioria das pessoas. São patos-bravos normalmente com um ar robusto e saudável e podem apanhar-se com armadilhas preparadas com notas de euro junto a Câmaras Municipais. No entanto, devem usar-se com parcimónia porque são ambientalmente devastadores. Expliquem-me a necessidade de importar patos. E logo de Inglaterra.

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