AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 29 de junho de 2007

O PESSIMISMO DOS MÉDICOS

Hoje, no RCP, ouvi referências a um estudo que abalou seriamente o meu já baixo optimismo. Afirma-se então nesse estudo que os médicos portugueses são os mais pessimistas, creio que dos países europeus, relativamente aos cuidados de saúde prestados aos cidadãos no âmbito do Serviço Nacional de Saúde.

Fiquei verdadeiramente preocupado. Então se nem os profissionais acreditam na qualidade de serviços que prestam como é o cidadão pode encarar de forma confiante uma situação de doença. É certo que o Ministro da tutela também já afirmou em tempos que não utilizaria um SAP, (não voltem a fazer cartazes a este propósito pois não faz bem à saúde da democracia). As opções não são muito acessíveis visto que a maioria da população não poderá escolher entre simplesmente não adoecer, aproveitar viagens ao estrangeiro para adoecer, aceder fundamentalmente a serviços de natureza privada ou colocar uma vela ao santo da sua devoção e ter muita esperança. Uma hipótese de pressionar a melhoria na prestação dos cuidados de saúde poderia ser uma greve à doença, isto é, deveríamos recusar-nos a adoecer enquanto não pudéssemos confiar nos serviços que teremos à nossa espera. Alinham? Eu já comecei.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

HISTÓRIAS DA VIDIGUEIRA

Hoje, pela fresquinha, por volta do meio-dia, desloquei-me para o meu Alentejo para participar num debate sobre o programa Escola a Tempo Inteiro promovido pela Câmara da Vidigueira e em que também participaram o Prof. Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, e a Dra Maria José Viseu, presidente do Conselho Executivo da CONFAP. O debate foi animado. Não cabe aqui comentá-lo mas não resisto a duas histórias. Eis a primeira. Imaginem um honesto cidadão que se prepara para fazer uma palestra face a uma assembleia e que 10 minutos antes de começar, numa prosaica deslocação aos lavabos, fica com o fecho das calças inoperacional e na posição aberto. Aconteceu-me. Felizmente tinha uma camisa comprida que serviu a deselegante contento ainda que um pedaço amachucada. Ele há coisas.

Segunda história. Esta foi-me contada por uma professora participante no debate e a propósito dos enviesamentos da Escola Tempo Inteiro. Na sua escola foi este ano arranjado um espaço para as crianças jogarem futebol. Um dos seus alunos fez a seguinte observação. “Quando eu tinha tempo para brincar não tinha um campo. Agora tenho um campo e não tenho tempo para jogar”. Os miúdos andavam mal habituados é o que é. Então a escola é sítio para jogar à bola mesmo havendo campo? Não, a escola é para trabalhar. No mínimo, 7 horas por dia. No mínimo.

HUMOR, DIVERGÊNCIA DE OPINIÕES E DEMOCRACIA

Em 12 de Junho, depois do caso da DREN com o afastamento do Prof. Charrua devido aos seus comentários e da situação da DGIDC com o afastamento da Associação dos Professores de Matemática da Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática com base em discordâncias com a opinião da Senhora Ministra, perguntava eu aqui “Quem se segue?”

Já sabemos. É a Dra. Maria Celeste Cardoso, directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, que não terá sido suficientemente lesta a retirar um cartaz onde se comentava em tom “jocoso” uma afirmação do Senhor Ministro da Saúde. Foi afastada por despacho ministerial. O cartaz foi, ao que parece e de acordo com a Lusa, fotografado por um elemento do PS local e um funcionário do centro dando início a um processo de que se conhece agora o desfecho.

Estes procedimentos não vos lembram nada?

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O ENDIVIDAMENTO - ECONOMIA OU VALORES

Estudo hoje divulgado refere que 74% das autarquias não têm meios para saldarem as suas dívidas. É também conhecido e reconhecido que o nível de endividamento das famílias em Portugal tem subido regularmente. Estas questões são, normalmente, objecto de análises sobre política económica e financeira, produzem-se reflexões sobre o funcionamento dos mercados e a sua evolução, analisam-se indicadores de recuperação e estabilização económicas, etc. Raramente são considerados factores que, do meu ponto de vista, assumem um papel importante. Refiro-me a aspectos de natureza ética e cultural. De mansinho tem vindo a instalar-se a ideia de “és o que tens” e, portanto, “se não tiveres, não és”. Esta ideia leva a que muitos de nós, contrariamente ao que se passava em gerações anteriores, tenhamos a imperiosa necessidade de aceder a bens e serviços que o orçamento familiar não suporta mas que a “generosidade” da Banca suporta. Se não tivermos como haveremos de ser. E lá vem mais uma dívida. As autarquias com o quadro por demais conhecido de gestão do clientelismo, da falta de transparência, da obra de fachada, etc. acabarão fatalmente por ultrapassar limites de gestão equilibrada.

Por isso creio que estas questões são fundamentalmente um problema de valores e, só depois, um problema de natureza económica. Parece urgente a instalação de uma cultura de rigor, qualidade e responsabilidade.

terça-feira, 26 de junho de 2007

MANHUNT 2. O mundo está louco

Li no Público e tive dificuldade em entender. Foi produzido um jogo de vídeo, MANHUNT 2, cuja acção passa pela gestão de uma personagem “que depois de escapar do hospício, vagueia por uma cidade assassinando e torturando quem encontra”. Este jogo foi censurado pela entidade inglesa reguladora destes produtos, situação que ocorreu pela primeira vez em 10 anos e a sua comercialização, para já, foi suspensa, inclusivamente em Portugal. No entanto, dizem os seus produtores, “acreditamos firmemente que pais e consumidores, uma vez informados sobre a natureza de qualquer produto de entretenimento, serão capazes de fazer as suas próprias opções”. Entretenimento?! Esta gente é doida. Este “entretenimento”, na sua primeira versão em 2004, esteve na base de um assassínio de um jovem de 14 anos por outro de 17. Há miúdos que, pelos vistos, não “sabem fazer as suas próprias opções”. E alguns criativos também não.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

MUSEU BERARDO - Eu acredito no Pai Natal

Eu afirmo solenemente que acredito no Pai Natal. E também acredito no despojamento patriótico do Comendador Berardo. A sério.

Notem que o facto de, para 2007, o Museu Berardo custar 3,5 milhões de euros ao OGE, entre encargos de manutenção, funcionamento e adaptação dos espaços do CCB; de o MC disponibilizar meio milhão de euros por ano até 2016, para aquisição de obras, para além de verba a definir em cada OGE também até 2016; de o benemérito Comendador ser presidente vitalício da Fundação; de o Estado Português em 2016 ter opção de compra e apenas isso, pelo valor agora atribuído à colecção de arte contemporânea do Senhor Comendador; de o responsável pelo Museu ser indicado por, adivinhem, o Senhor Comendador; são, por si, elucidativos indicadores da dívida de gratidão que Portugal acaba de contrair com o Senhor Comendador.

Repito. Acredito no Pai Natal.

domingo, 24 de junho de 2007

MAIS ESCOLA OU MELHOR ESCOLA

Em declarações proferidas em Viseu, a Senhora Ministra da Educação recolocou na agenda a questão da obrigatoriedade da educação pré-escolar ou, em alternativa, a entrada mais cedo no 1º ciclo com o objectivo de antecipar o início da escolaridade obrigatória. As afirmações, ao que parece, não definiam a opção nem o calendário para a medida. Algumas notas.
Em primeiro lugar, é relevante considerar que a introdução aos seis anos de idade dos conteúdos do que, no nosso sistema educativo, se designa por 1º ciclo é geralmente entendida como adequada e seguida em muitos outros sistemas educativos. A questão central é, de facto, o que deve acontecer antes dos seis anos. A educação pré-escolar, dos 3 aos 5 anos, com uma designação que leva a equívocos, mais do que a “preparação para a escola” cumpre um conjunto de objectivos, bem estabelecidos há já algum tempo nas “Orientações Curriculares”, que lhe dão identidade e sentido próprios e genericamente entendidos como base fundamental para percursos educativos bem-sucedidos. Nesta persprectiva, vale a pena recordar que, ainda recentemente, o Relatório da Inspecção-Geral da Educação referia ser de 76% a taxa de cobertura nacional da educação pré-escolar. É evidente que no sentido de promover mais equidade nas oportunidades, pode ser defensável a obrigatoriedade de frequência do último ano da educação pré-escolar, os 5 anos, mas nunca começar um 1º ano aos cinco. FUNDAMENTAL MESMO, É MELHOR ESCOLA, PARA TODOS, E NÃO MAIS ESCOLA. Vejam o que se passa em muitas das experiências da chamada Escola a Tempo Inteiro a que aqui já me tenho referido.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

CARTAS DA TERRA DAS TENDAS

Se puderem, espreitem durante o fim-de-semana no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian o trabalho Return to Sender – Letters from Tentland. Para ajudar a decidir junta-se uma pequena nota em inglês por falta de tempo para a tradução.

“The bodies of the female performers disappear in the tents, but you can feel their inner tension. In 'Letters from Tentland', six Iranian actresses capture the audience with their anger, their wishes and dreams, but also their call for tolerance and cultural difference. In 'Return to Sender', six exiled Iranian women succeed in formulating a passionate plea for freedom. In this piece as response, the dance is about the supposed liberties of exile. The women perform in tents which their colleagues form Tehran have left behind, and which both groups use to veil their desires. For the exiled, the tent is a symbol of their unstable lives and also a piece of home which they cannot rid themselves of. They move on the dividing line between the two cultures, and heavily bump into both sides. So the tents whirl around like wind blowing from two directions, they fold and unfold, ripping up like envelopes with letters from exile tumbling out. Locked-up moving messages that speak of home as a puzzle of memories, of imminent deportation, of being inbetween, being different. And between the lines we can read how they fight against fear, how they try not to be controlled by fear.”

É um excelente trabalho.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

DIA MUNDIAL DO REFUGIADO. QUAL REFUGIADO?

Voltamos à agenda da consciência. Hoje, dia 20 de Junho, Dia Mundial do Refugiado. Qual refugiado?

Do refugiado da fome e da guerra? Ou do que se refugia na abundância obscena?
Do refugiado do fundamentalismo religioso intolerante? Ou do que, com medo de existir, se refugia num Deus?
Do puto refugiado na rua? Ou do puto refugiado numa instituição?
Do refugiado em si? Ou do refugiado entre a gente?
Do refugiado político? Ou do que se refugia na política?
Do puto colocado, refugiado, em mil actividades? Ou do puto refugiado no mundo de um ecrã?
Do sem abrigo, refugiado da rua? Ou do refugiado, abrigado, em condomínio fechado?
Do trabalhador escravo da miragem de um refúgio? Ou que se refugia no trabalho para não sonhar a miragem?
Do refugiado que envelhece refugiado? Ou do velho refugiado num eufemismo chamado lar?
Dos Direitos Humanos refugiados? Ou dos refugiados sem Direitos Humanos?
Do refugiado de uma insuportável existência? Ou da insuportável existência do refugiado?


Não sei.

terça-feira, 19 de junho de 2007

UM PAÍS A ANTIDEPRESSIVOS

De acordo com um estudo do Alto-Comissariado para a Saúde realizado no âmbito do Plano Nacional de Saúde, o consumo de antidepressivos aumentou 68% entre 2000 e 2005. Este significativo aumento pode, para além de outras hipóteses, sugerir indicadores de mal-estar que, de mansinho, se vão instalando. Querendo contribuir, modestamente, para a nossa saúde mental creio poder identificar algumas situações que, uma vez resolvidas, seriam uma excelente ajuda para o nosso bem-estar. Assim, parece urgente:

Que se entendam sobre a localização do novo Aeroporto;
Que se saiba quem governa Lisboa;
Que o Apito Dourado tenha fim, qualquer um pois nada se estranhará;
Que a retoma se instale e, sobretudo, se sinta;
Que saibamos se o Dr. Marques Mendes resiste ao lume brando ateado por companheiros de partido;
Que definitivamente se entenda se o Sr. Engenheiro é, ou não, Sr. Engenheiro;
Qua as análises de Vasco Pulido Valente contenham pelo menos um aspecto positivo a cada seis meses;
Que se esclareça se o Dr. Portas, o Paulo, vai conduzir um táxi ou um mini-autocarro;
Que o Benfica volte a ser campeão;
Que o Dr. Lopes, o Santana, tenha um espaço semanal de análise política e cultural, sendo entrevistado por Luís Delgado.

É certo que não é tudo, mas ajudava.

O PAÍS AUTÁRQUICO

Paulo Morais, antigo vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, em entrevista recente ao JN volta a afirmar a fortíssima relação entre gestão autárquica, especulação imobiliária, corrupção, tráfico de influências e financiamentos partidários. Já em 2005 tinha denunciado alguns processos neste âmbito junto do Departamento de Investigação e Acção Penal no Porto. O processo continua a correr passados dois anos. Esta de processos a “correr” no nosso sistema de justiça é para rir pois, nas mais das vezes, estão sentados dormindo o sono dos esquecidos. Presumo que mais uma vez e apesar esta esclarecedora entrevista de quem conhece os meandros, tudo vai ficar mais ou menos na mesma, exceptuando a provável reacção de virgem ofendida por parte da Associação Nacional de Municípios na pessoa do Dr. Ruas, o tal que incitava a população a correr à pedrada os fiscais do Ministério do Ambiente.

E assim se vai cumprindo Portugal.

domingo, 17 de junho de 2007

É A DEMOCRACIA SENHORA MINISTRA, É A DEMOCRACIA

Uma das características das sociedades democráticas é a possibilidade de escrutínio por parte de cidadãos e instituições relativo às decisões políticas. Neste sentido, a existência de comunidades atentas, críticas e exigentes para com o poder político é geralmente entendida como um sinal de saúde dos regimes democráticos.

Vem isto a propósito da reacção da Senhora Ministra da Educação a declarações de diferentes pessoas ou entidades face à decisão do Tribunal Constitucional que se pronunciou pela inconstitucionalidade da repetição de exames de Física e Química. A decisão de repetição, na altura fortemente discutida, é, obviamente, de natureza política. Entende-se assim, que possam ser exigidas responsabilidades políticas a quem decidiu sem base constitucional, o Ministério da Educação. À luz da natural conflitualidade de interesses, os termos em que se coloca essa exigência de responsabilidades podem variar. Trata-se da pluralidade de pontos de vista, mais uma característica das democracias. A FENPROF entende que deve pedir o limite da responsabilidade política, a demissão. Independentemente do grau de concordância é legítimo e… constitucional.

O que já me parece menos aceitável é a reacção da Senhora Ministra “Ele que peça a demissão, ele que peça à vontade. Não é a primeira vez nem será a última, seguramente”. Mais um notável exemplo de arrogância. Mas podemos ficar mais descansados porque apesar de tudo, ainda pela voz da Senhora Ministra, “Em qualquer caso o que lhe posso garantir é que todas as decisões dos tribunais são rigorosamente respeitadas pelo Ministério”. Valha-nos isso.

Acabo como comecei. É a democracia Senhora Ministra, é a democracia.

sábado, 16 de junho de 2007

UM LOBBY PELOS VELHOS

Provavelmente pelo facto de já não ter vinte anos há mais de trinta, estou a ficar progressivamente atento à situação da chamada terceira idade, ou, termo mais recente, dos seniores.

No Expresso de hoje, num trabalho sobre demografia urbana centrado no fenómeno da desertificação humana que afecta a maioria das capitais de distrito, referia-se que a cidade de Lisboa, entre 1991 e 2005 perdeu 21% da sua população, que passou a ser cerca 520000 pessoas. Acresce a esta situação o envelhecimento da população que permanece, isto é, um em cada quatro lisboetas tem mais de 65 anos. Finalmente, muitos destes idosos vivem sós, em casas degradadas e com fortíssimos problemas de mobilidade.

Com o previsível e desejável aumento da esperança de vida e com o abaixamento nas taxas de natalidade o quadro demográfico não deverá ter alterações significativas nos próximos anos. Resta-nos assumir o desafio de proporcionar alguma qualidade de vida aos mais velhos. Estamos mais uma vez no incómodo terreno das políticas sociais. E os tempos não vão bons para preocupações sociais. O discurso neo e ultra-liberal em matéria de economia desencadeando uma enorme pressão sobre as decisões políticas não é muito animador.

Que tal começarmos a promover discretamente a constituição de um lobby pelos seniores, ou seja, pelo futuro? Pelo nosso futuro.
(Foto de Ricardo Duarte S.)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

QUERO FALAR À MESA

Hoje numa conversa com pais contaram-me uma historinha engraçada.

- João, quando fores grande queres ser o quê?
- Quero ser pai.
- Pai! Porquê?
- Para poder falar à mesa.

É. Se nem à mesa conseguem falar, como é que podemos entender os putos.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

MAIS EXAMES. OUTRA VEZ PROFESSOR CRATO?

Num dos jornais televisivos de ontem e a propósito do pouco edificante afastamento, ou “auto-exclusão”, da Associação de Professores de Matemática da Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática voltámos, como não podia deixar de ser, a ouvir o incontornável Professor Crato.

Como pensador coerente e seguro da certeza das suas convicções e vastíssimos saberes, voltou à sua recorrente defesa de mais exames para melhorar o estado da educação. A ver se nos entendemos.

Nas várias provas a que os nossos alunos são sujeitos sabemos dos resultados que evidenciam. São preocupantemente fracos. Os estudos internacionais comparativos como o PISA (Project for International Student Assessment) mostram dados devastadores. Mais exames apenas reforçarão este conhecimento. Sabemos também que os recursos injectados nos últimos anos no Sistema Educativo não se têm reflectido em níveis de sucesso significativos pelo que, nesta matéria, a questão será, eventualmente, de melhores recursos e não tanto de mais recursos. Sabemos ainda que os estudos internacionais sobre a promoção de qualidade na educação sublinham dois eixos estruturantes dessa melhoria, os processos de trabalho e o seu adequado ajustamento às variáveis de natureza contextual que, por condição, diferem.

Nesta perspectiva, a melhoria do nível dos nossos alunos terá que passar por ajustamentos nas formas de trabalho (metodologias e didácticas por exemplo), pela adequação dos conteúdos curriculares, pela criteriosa escolha de manuais e materiais de apoio, pela definição de uma cultura de rigor e exigência, pela qualidade na gestão das escolas, etc. e não por mais exames por mais sofisticados e rigorosos que possam ser.

Talvez o Professor Crato esteja convencido de que alguém doente e febril, ficará melhor e com menos febre só por colocar o termómetro de 10 em 10 minutos. Não, não é por medir muitas vezes a febre que ela baixa.

terça-feira, 12 de junho de 2007

ENTÃO? DISCORDA-SE DA SENHORA MINISTRA?

Depois da Comissária Moreira da Direcção Regional de Educação do Norte, o Comissário Capucha da Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular. Estou a lembrar-me do grande ideólogo do regime e putativo candidato a figura maior, o Dr. António Vitorino, no seu célebre “Habituem-se”.

A Associação dos Professores de Matemática discordou de declarações da Ministra da Educação sobre eventuais leituras dos resultados das provas de aferição. Em consequência, a APM foi convidada, pelo Comissário Capucha, a abandonar a Comissão de Acompanhamento do Plano da Matemática. Ao que parece, no entendimento do Comissário Capucha, a APM não terá percebido que fazia parte da “Comissão de Ratificação das Sábias Decisões da Querida Líder” integrante de um CRVCC, Centro de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (governamentais). Esta interpretação é suportada pelo facto de o assessor de imprensa do Ministério, o Comissário Nunes, ter afirmado que, ao discordar da Ministra, a APM se “auto-excluiu” do processo.

O Comissário Capucha, em cujo currículo nada permite entender a sua presença à frente de uma Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, é, mais um, enorme erro de “casting”. Ou não. Se a função for levar à “auto-exclusão” quem não está de acordo e o zelo censório de opiniões contrárias às da Chefe, parece tão preparado como a Comissária Moreira. Quem se segue?

segunda-feira, 11 de junho de 2007

A CERVEJA FAZ BEM, E OS CARACÓIS?

Aqui está uma boa notícia. Um estudo realizado pela Universidade de Valência e pela Sociedade Espanhola de Dietética e de Ciências da Alimentação envolvendo 50 freiras a quem foi providenciado meio litro de cerveja diário durante 45 dias, concluiu que o consumo regular, moderado, contribui para o abaixamento significativo dos níveis de colesterol bem como para a minimização do risco de doença cardiovascular. A criteriosa escolha da população para o teste reforça a qualidade das conclusões.

Espero, agora, ficar livre dos olhares reprovadores dirigidos à minha caneca e que tanto a embaraçam. Fiquem sabendo que me faz companhia a contragosto por prescrição médica e com fins terapêuticos. Já agora, não haverá ninguém que queira fazer uma investigação sobre os “pires de caracóis”? Também me dava jeito e a caneca não ficava sózinha.

domingo, 10 de junho de 2007

A REALIDADE ESTÁ ERRADA - Eu é que estou certo

Dois bons exemplos de uma certa forma de fazer política assente na recorrente ideia de que a realidade está errada e o discurso político certo.

De acordo com o relatório da OCDE “Pensions at a Glance 2007”, o novo modelo de cálculo das pensões promoverá um abaixamento de 40% no valor da pensão média dos portugueses. Confrontado com este dado, o Ministro da tutela afirma que a situação não é exactamente assim, pois a pensão de cada português dependerá da sua opção uma vez que pode escolher trabalhar mais tempo ou descontar mais para manter o nível de pensão. Mas é ou não verdade que, como diz o relatório da OCDE, no quadro actual as pensões baixam? Talvez eu me esteja a esquecer que há portugueses que optam por fixar para si próprios, pensões altíssimas ao fim de apenas 10 anos de trabalho. Deve ser destes que o Ministro fala.

A gestão americana da Base das Lajes, nos Açores, em Portugal, determinou excluir de um concurso elementos de nacionalidade portuguesa. Aos microfones da Antena 1 interrogado sobre a posição do Estado Português o Ministro Luís Amado considerou a situação “um problema menor”. Menor, Senhor Ministro? Lembrei-me de uma afirmação de Nuno Brederode dos Santos numa antiga crónica no Expresso “os Negócios Estrangeiros em Portugal raramente são bons negócios mas, quando o são, então são, de facto, estrangeiros”.

PS – Por uma vez estou de acordo com a D. Filomena Mónica, que afirmou ao Semanário Económico “se pudesse escolher nunca seria portuguesa”. É verdade, se eu pudesse escolher, a senhora não seria portuguesa. Não há mais saco para aturar o snobismo arrogante e, frequentemente, a ignorância com que opina sobre tudo o que a queiram ouvir. Uma das mais destacadas tudólogas da nossa praça.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Têm sido estranhas algumas das últimas notícias vindas da administração da Justiça. Primeiro, o delirante acórdão do Supremo Tribunal que reduz significativamente a pena a um provado abusador de uma criança com treze anos, com base num exercício ignorante sobre desenvolvimento da criança. Depois, soubemos que Franquelim Lobo um dos mais poderosos traficantes de droga passa de uma condenação de 25 anos, pena máxima, para a absolvição na repetição do julgamento. A absolvição decorre de questões processuais não da provada inexistência de ilícitos. Finalmente, ao fim de dois anos e meio de julgamento estão por ouvir cerca de trezentas testemunhas no processo Casa Pia, tornando imprevisível o seu fim. À atenção dos doutos conselheiros do Supremo. Considerando os casos anteriores, espero que este não acabe com as crianças e jovens condenadas por assédio.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

COMPUTADORES E EDUCAÇÃO

A propósito da recente medida divulgada pelo governo, no sentido da promoção do acesso a computadores e à utilização da banda larga por parte de alunos e professores, um excerto de uma peça publicada no sítio www.educare.pt. que merece a atenção quer de fanáticos “high-tec”, quer de fundamentalistas do tipo “essas coisas só distraem os alunos”.

“Nos Estados Unidos a presença dos computadores nas salas de aulas não corre pelo melhor. No passado mês de Abril, o departamento de educação dos Estados Unidos realizou um estudo que acabaria por demonstrar que não havia diferenças ao nível de conhecimentos entre os alunos que utilizaram os computadores oferecidos, em contexto escolar, ao nível da matemática e da leitura, e os que não tiveram acesso a esses equipamentos. O desapontamento começa a subir de tom quando se constata que há escolas que gastam mais dinheiro na reparação dos portáteis do que em ensinar os professores a trabalhar com os novos materiais.
Já no Reino Unido, a realidade é um pouco diferente. A BECTA (British Educational Communications and Technology Agency), agência governamental que acompanha o processo de implementação das novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas inglesas, elaborou um relatório sobre o impacto que essas tecnologias estão a ter no sistema educativo. De uma maneira geral, os resultados são positivos. O documento ressalta que as novas tecnologias estão a alterar métodos de aprendizagem tanto do lado dos professores como dos alunos que, em conjunto, descobriram na introdução desses novos mecanismos - portáteis, quadros interactivos e Internet -, um factor positivo, que altera o próprio processo de aprendizagem e motiva quem ensina e quem aprende. A desconfiança inicial dos professores foi substituída pelo optimismo. Os docentes identificam problemas e necessidades e procuram integrar as novas tecnologias em vários campos do saber. Uma tarefa que exige um compromisso da comunidade escolar e uma estratégia governamental planeada para garantir mudanças sustentadas. E mesmo os jogos, que poderiam ser motivo de distracção, são aproveitados para estimular o trabalho em equipa e explorar a informação como um processo evolutivo.”
Voltaremos a este tema um dia destes.

terça-feira, 5 de junho de 2007

DIA MUNDIAL DO AMBIENTE - contributo para uma agenda da reciclagem

Como contributo para a reflexão integrada no Dia Mundial do Ambiente, creio que pode ser útil a identificação de focos de poluição e degradação do nosso ambiente. Sem nenhum critério de ordenação aqui fica a referência a algumas dessas fontes.

O ruído cacofónico em torno da construção do novo aeroporto de Lisboa que se torna poluidor da gestão transparente do interesse público;
O nível insuportável de fenómenos de exclusão social e pobreza, fortemente poluidor da dignidade e dos direitos humanos;
Parte importante do poder autárquico que se transformou em foco permanente de poluição da qualidade de vida em muitas das nossas cidades e vilas;
O insucesso educativo, poluidor da construção de projectos de vida viáveis;
Os aparelhos partidários e as suas lógicas, quantas vezes poluidoras da cidadania soberana e da democracia;
O lado negro da globalização como o desemprego e a normalização fundamentalista;
O pessimismo obsessivo de Vasco Pulido Valente;
A gestão do futebol português poluidora da ideia de desporto e do gozo de torcer por um clube;
A decomposição que começa a verificar-se em torno de Marques Mendes;
O mal-estar do amanhã inseguro e sem projecto;
O excesso de propaganda sobre o que de extraordinário, excelente, magnífico, superlativo, fantástico, inédito, etc., o Governo tem feito, e vai fazer;
O ministro Mário Lino poluidor da inteligência e bom senso de quem ouve aquilo a que ele chama de metáforas;
A camisa aberta do Dr. Portas, o Paulo;
A quantidade incrível de novelas que poluem o espaço televisivo;
A saloiice do Dr. Menezes travestido de salvador;
(continua)

domingo, 3 de junho de 2007

O ALENTEJO, SEMPRE


Cheguei há pouco do meu Alentejo. Há muito tempo que vos não falo dele. Nesta altura assume uma das mais bonitas tonalidades do ano. O verde que, felizmente, não faltou, está a dar lugar a amarelos e castanhos que não existem em mais lugar nenhum. Trouxe-vos um bocadinho do meu Alentejo. Até amanhã.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

DIA MUNDIAL DA CRIANÇA E DO FUTURO

E pronto. Hoje temos que nos inquietar com a criança. Cumpre-se o Dia Mundial da Criança.

Não simpatizo com os dias nacionais, internacionais ou mundiais seja do que for. Habitualmente trata-se de um bom negócio e de um analgésico para as consciências. Mas, a existir, acho que se deveria designar por DIA MUNDIAL DA CRIANÇA E DO FUTURO.

E a gente não anda a cuidar bem do futuro.
(Foto de Nuno Monteiro)