O Público divulga alguns dados de um estudo, “Os portugueses e os seus afectos: será que nos entendemos?”, promovido pela marca Mimosa do grupo Lactogal com o Professor Daniel Sampaio como consultor científico. O estudo centra-se na forma como sentem pessoas de gerações diferentes, filhos, pais, avós as suas relações familiares.
Em síntese, sete em cada dez
adultos sentem que no seu contexto familiar existem relações de afecto não
globalmente satisfatórias. Cerca de 44%, mais de quatro em dez inquiridos dizem
que gostariam de ter melhores relações com, pelo menos, mais um elemento da família.
Os pais e as mães são as figuras familiares com quem a maioria dos inquiridos expressa
gostariam de estar mais ligados.
São as pessoas entre os 18 e os
34 anos que expressam o desejo de maior ligação afectiva com os pais como,
reciprocamente, a partir dos 55 anos os pais expressam um desejo de maior
ligação afectiva com os filhos. São ainda interessantes outros indicadores mais finos.
À medida que lia a peça surgia na
minha cabeça a ideia de “consolo” ou, pela negativa, “desconsolo” que ilumina a relação entre as pessoas.
A minha avó Leonor usava com
muita frequência o termo desconsolo para caracterizar qualquer situação ou
facto que considerasse menos positivo, "está um frio que é um
desconsolo", "não faças isso, é um desconsolo", "são
pessoas infelizes, é um desconsolo". Se ela estivesse connosco agora muito
mais desconsolo haveria de encontrar. Os tempos são tempos de muito desconsolo,
como este trabalho sugere nos contextos familiares.
Stig Dagerman acha que a
"nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer". Se se
entender como ele que "só existe uma consolação verdadeiramente real: a
que me diz que sou um homem livre, ser inviolável, soberano dentro dos seus limites",
então estaremos condenados ao desconsolo, um homem livre, inviolável, soberano,
parece do domínio da utopia e os tempos são os da absurdidade de que fala
António Vieira.
No entanto, sou um tipo
moderadamente optimista, quando olho para miúdos pequenos que estão a aprender
a ser gente, os meus netos por exemplo, gosto de acreditar que não estarão
condenados ao desconsolo. Talvez possamos ser menos exigentes que Dagerman no
seu angustiado opúsculo, talvez possamos encontrar consolo, algum consolo.
Do meu ponto de vista a dignidade
e o afecto são fontes fundamentais de consolo e acho que para muitos de nós a
dignidade e o afecto serão alcançáveis, devendo mesmo ser exigidos.
É, se não deixarmos que nos
roubem a dignidade e se encontrarmos o Outro a nossa necessidade de consolo é
possível de ser cumprida, quase.
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