Foram divulgados os resultados um inquérito realizado pela Fenprof junto de professores do 1º ciclo. Responderam 2150 docentes (8,5% dos professores de 1º ciclo nas escolas públicas e em síntese as suas respostas revelam o envelhecimento significativo da classe, 48,5% tem mais de 51 anos sendo que destes, um terço tem mais de 60 e apenas 5% menos de 40 anos. Muitos, 40,6%, referem as dificuldades com recursos, designadamente, acesso à net, recursos e equipamentos informáticos e insuficiência de espaços para desporto.
Uma outra questão bastante
referida prende-se com a dimensão e constituição das turmas, 49,4% afirma
leccionar ter turmas com 21 ou mais alunos, destas, 24,1% têm um efectivo
superior ao determinado pelo quadro legislativo, 23 alunos.
Também é referido que 46% das
turmas que têm alunos com medidas selectivas ou adicionais, a linguagem do DL
54, têm mais de 20 alunos e um terço destas turmas têm mais de dois alunos com
as medidas referidas ultrapassando limite legal.
Apesar da prudência que
necessária parece clara a difícil situação profissional vivida por muitos milhares de
professores com custos significativos em termos de bem-estar e trabalho desenvolvido.
Tenho abordado esta questão
múltiplas vezes e recupero algumas notas.
Na verdade, os problemas que
afectam os professores e as consequências a curto e médio prazo, sendo
conhecidos de há muito, são agora claramente reconhecidos apesar de algumas
tentativas de torcer a realidade. São recorrentes as referências à preocupante
falta de professores, ao envelhecimento da classe, os níveis de cansaço e de
exaustão emocional, a menor atracção dos mais jovens pela profissão associada a
modelos de carreira, contratação e valorização pouco motivadores e justos. Os
professores passam por dispositivos de avaliação pouco transparentes e competentes
que desmotivam, causam mal-estar e climas institucionais pouco amigáveis, para
ser simpático na adjectivação.
Este quadro, de um mal-estar
reconhecido, não pode deixar de ter impacto. Como muitas vezes afirmo,
crianças, enquanto grupo social, e professores, enquanto grupo profissional,
constituem dois grupos nucleares nas sociedades contemporâneas. Os mais novos
porque são o futuro e os professores porque, naturalmente, o preparam, tudo
(quase) passa pela escola e pela educação. Entre nós, este entendimento ainda
me parece mais justificado porque, devido a ajustamentos na organização social
e familiar e, é minha convicção, devido a políticas públicas sociais e
educativas inadequadas, os miúdos passam tempo excessivo na escola, alterando a
dinâmica educativa familiar o que sobrevaloriza o papel da escola através dos
professores.
Múltiplas acções, decisões
políticas e discursos da tutela, bem como alguma imprensa e "opinion
makers", têm contribuído para degradar a sua função, fragilizar a sua
imagem social e comprometer o clima e a qualidade do trabalho desenvolvido nas
escolas apesar dos professores continuarem a ser uma das classes profissionais
em que os portugueses mais confiam.
Ser professor no ensino básico e
secundário por razões conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de
extrema dificuldade e exigência que social e politicamente justifica um
reconhecimento e valorização frequentemente negligenciados. Acresce que é uma
tarefa desempenhada por uma classe extremamente envelhecida e cansada como tem
sido amplamente estudado e divulgado e também confirmado neste inquérito da
Fenprof.
A valorização social e
profissional dos professores em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. A valorização e
reconhecimento passam também pela necessidade de modelos de avaliação justos e
transparentes que sustentem, reconheçam e promovam competência, empenho e
atracção pela profissão.
Como referia há dias a propósito
do “Plano + Aulas, + Sucesso”, as mudanças nunca são fáceis, será sempre
difícil um caminho de concordância generalizado, mas também tenho a convicção
de que medidas conjunturais, mais positivas ou menos ajustadas, concebidas por
ciclos políticos continuarão, apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na
conjuntura e a não alterar substantivamente a estrutura que alimenta … as
conjunturas.
O caminho que temos vindo a seguir parece esgotado e o futuro está comprometido. Não vale a pena negar a realidade.
«…Há muita gente que não tem qualidades nem capacidades de ensino, não devia estar a ensinar, não por razões morais mas por razões técnicas, profissionais, porque não sabem para elas quanto mais para os outros…» – Joaquim Letria
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