AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 18 de fevereiro de 2024

OS DIAS DO ALENTEJO, O CRIADOR

 Todos os dias passados aqui no monte trazem à memória o Mestre Zé Marrafa como aconteceu no texto de ontem. Já não nos pode ajudar nem aparecer apenas para umas lérias. Está numa situação que não merece e em que não quereria estar. A vida do Mestre Zé nunca foi fácil, começou a trabalhar aos nove anos a guardar porcos e tem sido dura até ao fim, não é justo, mas o que seria justo nestas questões nem sequer terá o mesmo significado para todos.

Gostamos sempre de preparar a horta mais para o cedo e é altura de montar o criador, a estufa, para termos pés de tomate para plantar. Guardamos religiosamente as sementes de uma espécie que aqui temos e é muito saborosa, quer para salada, quer para gaspacho ou cozinhados de que a sopa de tomate ou umas migas são só exemplos. O Mestre Zé nunca se convenceu a fazer o criador com materiais “finos”. Umas canas, um plástico e umas pedras e já estava pronto a criar plantas.

Lamento Mestre Zé, mas não sabemos fazer criadores como os seus, não chegámos a aprender. No entanto, somos “vontadeiros”, como o Sr. Zé fala, e apesar de recorrermos a materiais sofisticados … já está feito o criador, arrimado a uma das mais bonitas oliveiras que aqui temos. Se aqui estivesse diria, como sempre, que alguma coisa poderia ter ficado melhor. Nós, os velhos, achamos quase sempre que os mais novos ainda não sabem.

Na verdade, o que gostávamos mesmo, era que ainda tivesse sido o Mestre Zé a fazer o criador. Ficaria melhor, é claro, mas, mais importante, era sinal de que o Mestre Zé estava bem.

Quanto à lida, só espero que o tomate nasça ou ficaremos envergonhados com o criador e … sem tomate bom para comer, é claro.

E são assim os dias do Alentejo.

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