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terça-feira, 2 de maio de 2023

DA DESMATERIALIZAÇÃO DAS PROVAS DE AFERIÇÃO. AFINAL AS CONDIÇÕES ... NÃO SÃO BEM AS IDEAIS

 Parece-me um facto muito interessante e elucidativo a declaração do Presidente do Instituto de Avaliação Educativa em entrevista à Lusa em que, relativamente à realização em formato digital das provas de aferição que se vão iniciar, declarou (as condições) "ainda não são as ideais, mas o IAVE tentou desenvolver um sistema que pudesse mitigar essas dificuldades". Afirma ainda que a ”transição digital "é uma inevitabilidade" dos tempos actuais e era preciso aproveitar a "janela de oportunidades".

Claro que sabemos que a “transição digital” é inevitável pelo que a “janela de oportunidades” deve ser aproveitada para criar as condições para a… transição digital.

A questão é que, apesar dos planos de contingência definidos nas escolas, os alertas de directores, professores e pais mostram, não as oportunidades aproveitadas, mas a inoportunidade da decisão do ME.

É certo que a longa marcha para a desmaterialização é inevitável e também na educação se incorporarão as ferramentas digitais de forma generalizada e integrada nos processos de ensino e aprendizagem, bem como em todos os processos relativos à organização e funcionamento escolar e do sistema no seu todo.

No entanto, é fundamental que a transição digital, perdão, da desmaterialização, não faça parte do problema, mas da solução. A  excessiva burocratização “platafórmica” que se verifica na vida de escolas e professores é um exemplo, como o será a realização das chamadas provas de aferição nas actuais circunstâncias.

E a verdade é que existem queixas frequentes relativas ao acesso atempado a equipamentos por parte dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de escolas e agrupamentos, não parece ser a sua especificação mais relevante, os recursos necessários à adequada utilização dos equipamentos, mas escolas, em particular nas salas de aulas, infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo. Acontece ainda que se verifica uma forte dispersão na literacia digital dos alunos. Deste cenário podem decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos e todos conhecemos múltiplas situações que evidenciam a enorme disparidade de recursos e da sua utilização.

Por outro lado, e para além da disparidade de recursos e competências e pensando sobretudo nos alunos do 2º ano, mas não esquecendo todos os outros, a aprendizagem da escrita é realizada, e bem, com o recurso predominante à escrita manual. Existem razões advindas da evidência, como agora se diz, que sustentam este caminho. Assim sendo, a proficiência da escrita em formato digital será na esmagadora maioria dos alunos de natureza e nível diferente o que pode contaminar os resultados ainda que, de acordo como o IAVE na amostra estudada as diferenças não sejam significativas.

No entanto, recordo que, se considerarmos que são provas de aferição o não me parece correcto, também teremos de considerar processos e não apenas produtos, resultados. Nestes processos estará também contemplado o domínio da utilização de recursos digitais, o que como já vimos, é de uma enorme latitude entre escolas e entre alunos. 

Este caminho deslumbrado de desmaterialização em educação vai engolindo a avaliação externa e também a avaliação interna submersa numa pressão "grelhadora" e chegará, temo, ao ensino através de uma onda de “capacitação” para tal tarefa, mas que não chega nos recursos e competências a todos os alunos.

Como diria o Senhor Ministro da Educação, estamos e vamos certamente continuar perante uma realidade que se pode chamar de desafiante.

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