O processo de protesto dos professores envolve, como não pode deixar de ser questões ligadas ao seu estatuto salarial e ao modelo de carreira cuja alteração também terá, naturalmente, impacto económico. Durante este processo já se ouviu por parte do Governo a afirmação da sua política de não aumentar despesa apesar da folga orçamental.
Talvez aproveitando a multidão de
chefs que têm mostrado uma criatividade
sem limites, o Governo esteja a tentar desenvolver a revolucionária receita da
omelete sem ovos.
Mais a sério, algumas notas sobre
a despesa em educação. De acordo com o relatório da OCDE “Education at a Glance
2022” considerando dados de 2019, apesar de alguma melhoria, e tendo como
indicador o gasto por estudante entre o 1º ciclo e o ensino superior, Portugal
investe menos que a média dos países da OCDE. No caso do ensino superior a
diferença é ainda mais significativa. Em números, Portugal investe menos 1480€
que a média. Este valor é calculado de forma a considerar as “diferenças de
rendimentos e de custo de vida entre países para possibilitar uma comparação”.
A realidade é, de facto,
desafiante e não é a projecção dos nossos desejos ou o que afirmamos que é.
Para além de repensar investimentos que surgem de fora da escola para a
promoção de múltiplas iniciativas, projectos, experiências, inovação, etc.,
existem necessidades e de diferente natureza. Em alguns casos podem
verificar-se resultados interessantes, mas que acabam por ter impacto limitado
e pouco duradouro dada a natureza externa das iniciativas.
É fundamental que as escolas
possam dispor dos recursos humanos, docentes, técnicos e auxiliares, de
materiais e equipamentos adequados, bem como de dispositivos de apoio
suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a
equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os
miúdos.
Sabemos, é uma referência comum,
a existência de “constrangimentos” que pesam nos recursos disponíveis.
No entanto, mais uma vez e não
esquecendo a necessidade de combater desperdício e ineficácia, é bom recordar
que a qualidade da educação e a promoção do sucesso para todos os alunos não
representam despesa, são investimento.
Sabemos também que a qualidade da
educação e da escola, pública ou privada, tem como um dos eixos críticos o
trabalho dos professores que, por sua vez, exige serenidade e confiança.
Os sistemas educativos com melhor
qualidade, independentemente dos critérios de qualidade são, em regra, os que
mais valorizam os professores, em termos sociais, em termos profissionais e
também no estatuto salarial.
Assim, a defesa da qualidade da
educação e da escola, pública e também privada, passa incontornavelmente pela
defesa e valorização das condições de trabalho, em diferentes dimensões, que
possibilitem que o desempenho de escolas, professores, directores, técnicos, funcionários,
alunos e pais tenha o melhor resultado possível.
De uma vez por todas, é
necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa
há investimento.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSubscrevo. Perfeitamente. Só falta é que a sociedade desperte para a necessidade de apostar na Educação. Depois de 10 anos de valorização da Carreira (anos 90) só temos tido incompetentes e gestores financeiros.
ResponderEliminarAOS professores compete ir à LUTA, EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA, DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO de QUEM LÁ APFRENDE e de QUEM LÁ EXERCE FUNÇÕES.
Concordo. Acrescento que os dados de Portugal no relatório não podem estar corretos. A media de professor por alunos é impossível, a média de salários incorreta... Como fizeram estas médias? O governo continua a trabalhar na fotografia - e perde fortunas nisso, como por exemplo no projeto Maia, mas deixando decair a realidade à sombra ténue do que um dia foi o sonho de educar os cidadãos portugueses.
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