AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

TAL PAI, TAL FILHO

 Como sabemos de há muito, a qualificação através de percursos escolares bem-sucedidos constitui-se como uma potente ferramenta de promoção de desenvolvimento, das comunidades e dos indivíduos, bem como, naturalmente, da equidade e igualdade de oportunidades. Apesar da evolução que se tem registado o caminho a percorrer ainda é longo e difícil.

Foi divulgado o relatório do Júri Nacional de Exames relativo a 2021. Depois dos exames nacionais do seundário servirem apenas como acesso ao ensino superior, o número de alunos abrangidos pala Acção Social Escolar que os realizou baixou para cerca de metade, 15,3% que se compara com 29.6% em 2018.

Acresce que se considerarmos outras formas de acesso ao superior, verifica-se no ensino profissional, dados da Direcção-Geral de Estatísticas do Ensino Superior relativos a 19/20 mostram que 24% frequentavam o ensino superior um ano depois, sendo que 76% desistiram. Considerando os cursos científico-humanistas, 19% estavam a frequentar no ano seguinte, mas 81% desistiram.

Num cenário em que se verifica o aumento de alunos no ensino superior, incluindo alunos dos CTESP, Cursos Técnicos Superiores Profissionais, leccionados nos Politécnicos, mas que não conferem grau e cuja procura tem aumentado, é preocupante baixa representação de alunos provenientes de agregados de menor rendimento, comprometendo seriamente a desejada mobilidade social e a construção de projectos de vida bem-sucedidos.

Importa ainda considerar que, apesar de ajustamento nos mecanismos de concessão de bolsas a frequência do ensino superior é muito cara e ainda mais quando exige deslocação. As famílias portuguesas continuam a ser das que mais têm de contribuir para que os seus filhos frequentem o ensino superior pelo que as mais carenciadas sentem dificuldades.

Neste cenário, quando se entende e espera que a educação e qualificação possam ter um papel decisivo na minimização de assimetrias, as políticas, os recursos, os custos e a dificuldade de acesso podem, pelo contrário, alimentar essas assimetrias e manter a narrativa, "tal pai, tal filho", pai (mãe) letrado, filho letrado e pai (mãe) pouco letrado, filho pouco letrado. Ainda me lembro da estranheza pela insistência dos meus pais, um serralheiro e uma costureira, na minha frequência do ensino superior, ainda que psicologia não fosse exactamente aquilo que sonharam. Sorte a minha pela insistência deles.

Assim sendo, são necessárias políticas públicas para o médio prazo, estabelecidas com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. Apesar de algumas melhorias que se registam, a continuidade de alguns aspectos levará a que daqui a algum tempo um novo estudo de dentro ou de fora venha dizer ... provavelmente o mesmo.

A qualificação é a melhor forma de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que apesar de ser um bem caro é imprescindível.

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