A divulgação do mais recente estudo, "A Saúde dos Adolescentes Portugueses", o de 2022, que integra o estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS, realizado de quatro em quatro anos e coordenado em Portugal pela excelente equipa da Aventura Social, que envolveu 5809 alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, desencadeou, como não podia deixar de ser, comentários e notícias.
Uma das questões mais abordadas e
comentadas na imprensa foram os dados sobre a dimensão “escola”, gostar da
escola, das actividades, das aulas, dos professores, etc. Foi especialmente referido
que 30,3 % dos alunos afirma não gostar da escola, valor sem grande diferença para o
relatório anterior, 2018, 29,6%. Antes de umas notas, devo dizer que me merece
mais atenção e alguma preocupação alguns dados relativos à percepção de
bem-estar (há pouco comentei os comportamentos auto-lesivos), relações
familiares, relações sociais ou o peso das redes sociais e o digital.
Relativamente à escola, sem
querer comparar o incomparável e só por uns momentos, deixem-me olhar para trás e contar uma história de
velho que , como todas, começa assim, "No meu tempo ...".
Às vezes gostava da escola,
outras vezes detestava a escola, outras vezes suportava a escola.
Havia disciplinas, poucas, de que
gostava, outras que se aguentavam e outras que eram um sacrifício, agora diz-se
seca. A apreciação das aulas estava quase sempre associada à apreciação das disciplinas.
Havia professores de que gostava, sobretudo
os que falavam mais com a gente, outros que detestava e outros que era assim,
assim.
Gostava imenso dos recreios,
sobretudo quando jogava à bola e detestava os recreios quando os contínuos não
nos deixavam jogar à bola.
Portava-me mais ou menos ou até
bem, com os professores de que gostava e, menos bem, estou a ser simpático, com
os professores de que não gostava. E também era verdade que me portava melhor
com professores que trabalham de uma maneira e pior com professores que
trabalhavam de outra, ainda não sabia falar de gestão de sala de aula.
Também gostava mais de
professores que davam poucos TPC e menos de professores que solicitavam muito
trabalho em casa. Às vezes, muitas vezes, tinha dúvidas, os meus pais não
sabiam como ajudar e não tinha explicações. Também ainda não tinha sido
inventado o “apoio ao estudo”.
Tinha colegas que quase sempre gostavam
da escola e colegas que quase sempre detestavam a escola e também tinha colegas
que a escola gostava deles e colegas que a escola detestava.
Havia actividades que gostava,
quase todas em que pudesse falar, e outras que detestava. Muitas vezes coincidia
com gostar mais ou menos do professor.
Havia actividades fora da sala de
aula de que gostava, lá vem de novo o futebol, e actividades fora da sala de
aula que detestava, algumas visitas de estudo eram penosas embora as
oportunidades de convívio na viagem fossem interessantes.
Havia colegas de que gostava
muito, os companheiros de comportamento, do futebol, por exemplo, e outros que
gostavam menos, alguns dos bons alunos, os “copinhos de leite, ainda não se
tinha inventado os “betos”.
Havia colegas de que quase toda a gente
gostava e outros de quase toda a gente não gostava, por uma razão ou por outra.
Se na altura tivesse de responder
a uma questão sobre qualquer destes tópicos, não seria fácil, dependeria do “estado
de alma”, mas não vale a pena alongar-me com mais considerações deste tipo.
É verdade que as sociedades de
hoje têm pouco a ver com aquele tempo em múltiplas áreas, não conhecíamos
telemóveis ou recursos digitais, por exemplo, mas a escola, apesar de todos os ajustamentos
por que foi passando continua centrada em algo que é crítico e em que tudo se
joga, a relação entre professor e aluno(s).
É certo que existem variáveis que
influenciam essa relação, individuais, (de cada professor e de cada aluno),
sociais, (contextos familiares, por exemplo), logísticos e recursos, (equipamentos,
apoios, ou o número de alunos) ou políticas públicas adequadas especialmente em
matéria de educação.
É neste contexto que, do meu
ponto de vista, se pode olhar para os dados agora conhecidos sobre a forma como
os adolescentes e jovens percepcionam a escola.
https://dererummundi.blogspot.com/search?q=Willingham
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