AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

GOSTAR DA ESCOLA E NÃO GOSTAR DA ESCOLA

 A divulgação do mais recente estudo, "A Saúde dos Adolescentes Portugueses", o de 2022, que integra o estudo internacional Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS, realizado de quatro em quatro anos e coordenado em Portugal pela excelente equipa da Aventura Social, que envolveu 5809 alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, desencadeou, como não podia deixar de ser, comentários e notícias. 

Uma das questões mais abordadas e comentadas na imprensa foram os dados sobre a dimensão “escola”, gostar da escola, das actividades, das aulas, dos professores, etc. Foi especialmente referido que 30,3 % dos alunos  afirma não gostar da escola, valor sem grande diferença para o relatório anterior, 2018, 29,6%. Antes de umas notas, devo dizer que me merece mais atenção e alguma preocupação alguns dados relativos à percepção de bem-estar (há pouco comentei os comportamentos auto-lesivos), relações familiares, relações sociais ou o peso das redes sociais e o digital.

Relativamente à escola, sem querer comparar o incomparável e só por uns momentos,  deixem-me olhar para trás e contar uma história de velho que , como todas, começa assim, "No meu tempo ...".

Às vezes gostava da escola, outras vezes detestava a escola, outras vezes suportava a escola.

Havia disciplinas, poucas, de que gostava, outras que se aguentavam e outras que eram um sacrifício, agora diz-se seca. A apreciação das aulas estava quase sempre associada à apreciação das disciplinas.

Havia professores de que gostava, sobretudo os que falavam mais com a gente, outros que detestava e outros que era assim, assim.

Gostava imenso dos recreios, sobretudo quando jogava à bola e detestava os recreios quando os contínuos não nos deixavam jogar à bola.

Portava-me mais ou menos ou até bem, com os professores de que gostava e, menos bem, estou a ser simpático, com os professores de que não gostava. E também era verdade que me portava melhor com professores que trabalham de uma maneira e pior com professores que trabalhavam de outra, ainda não sabia falar de gestão de sala de aula.

Também gostava mais de professores que davam poucos TPC e menos de professores que solicitavam muito trabalho em casa. Às vezes, muitas vezes, tinha dúvidas, os meus pais não sabiam como ajudar e não tinha explicações. Também ainda não tinha sido inventado o “apoio ao estudo”.

Tinha colegas que quase sempre gostavam da escola e colegas que quase sempre detestavam a escola e também tinha colegas que a escola gostava deles e colegas que a escola detestava.

Havia actividades que gostava, quase todas em que pudesse falar, e outras que detestava. Muitas vezes coincidia com gostar mais ou menos do professor.

Havia actividades fora da sala de aula de que gostava, lá vem de novo o futebol, e actividades fora da sala de aula que detestava, algumas visitas de estudo eram penosas embora as oportunidades de convívio na viagem fossem interessantes.

Havia colegas de que gostava muito, os companheiros de comportamento, do futebol, por exemplo, e outros que gostavam menos, alguns dos bons alunos, os “copinhos de leite, ainda não se tinha inventado os “betos”.

Havia colegas de que quase toda a gente gostava e outros de quase toda a gente não gostava, por uma razão ou por outra.

Se na altura tivesse de responder a uma questão sobre qualquer destes tópicos, não seria fácil, dependeria do “estado de alma”, mas não vale a pena alongar-me com mais considerações deste tipo.

É verdade que as sociedades de hoje têm pouco a ver com aquele tempo em múltiplas áreas, não conhecíamos telemóveis ou recursos digitais, por exemplo, mas a escola, apesar de todos os ajustamentos por que foi passando continua centrada em algo que é crítico e em que tudo se joga, a relação entre professor e aluno(s).

É certo que existem variáveis que influenciam essa relação, individuais, (de cada professor e de cada aluno), sociais, (contextos familiares, por exemplo), logísticos e recursos, (equipamentos, apoios, ou o número de alunos) ou políticas públicas adequadas especialmente em matéria de educação.

É neste contexto que, do meu ponto de vista, se pode olhar para os dados agora conhecidos sobre a forma como os adolescentes e jovens percepcionam a escola.

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