AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

ESCUTAR

 É com muita frequência que na imprensa surgem referências a “escutas”. Quase sempre estas referências produzem-se no âmbito de investigações no âmbito da justiça. É também frequente a discussão em torno do excesso de utilização, ou, pelo contrário, da necessidade da sua utilização como meio de investigação.

Na área em que me movo, a psicologia e mais em particular no universo da educação, a “escuta” é percebida como um elemento central na intervenção em diferentes contextos e com os diferentes intervenientes nos processos educativos familiares e escolares.

Nesta perspectiva, continuo a entender que, por diversas razões, se escuta de menos. Diria mesmo que enquanto sociedade e considerando sobretudo os tempos actuais, apresentamos um sério problema de "surdez", não escutamos. Aliás, poderemos até considerar que frequentemente revelamos o que se chama uma surdez selectiva, só escutamos o que queremos. Vejamos alguns, só alguns, dos nossos problemas de escuta.

Existem muitas pessoas cuja voz que ninguém escuta. Os últimos tempos têm sido bem elucidativos sobre o não escutar da voz das pessoas. É certo que muitas nem voz têm.

Escuta-se pouco os velhos sós, que vivem isolados e que sobrevivem com pensões de miséria.

Continuo a achar que existem demasiados miúdos, adolescentes ou jovens que, por mais alto que gritem, ninguém os escuta.

Sabemos dos milhares de crianças maltratadas e de mulheres vítimas de violência a que damos pouca escuta.

É preciso escutar milhares de desempregados sem acesso a subsídios de desemprego ou a outras formas de apoio.

E que dizer de milhares de jovens com dificuldades enormes para entrar no mercado de trabalho e que vêem comprometida a possibilidade de um projecto de vida.

A insensível e delinquente incapacidade de escuta dos responsáveis por múltiplas áreas das políticas públicas, saúde, justiça, educação, trabalho, etc.

De facto, contrariamente, às vozes que clamam contra a existência ou o excesso de escutas, mantenho a convicção de que se escuta bem menos do que devíamos.

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