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quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

"NO MAR NÃO TENHO OBSTÁCULOS, AO CONTRÁRIO DA RUA E EM TODO O LADO"

A surfista Marta Paço sagrou-se na última semana nos EUA campeã mundial de surf adaptado na categoria de competidores com deficiência visual. Este feito ocorre dois anos depois de ter sido campeão europeia.

Marta Paço tem dezasseis anos, é cega, e dá uma impressiva entrevista ao DN que, aliás, terá sido dos raros órgãos de comunicação social que deram algum relevo ao título alcançado.

Da sua entrevista, a afirmação, “Sem dúvida. No mar não tenho obstáculos, ao contrário da rua e em todo o lado. Sou só eu, a prancha e a água.” Como resposta à pergunta “É no mar que se sente melhor e mais livre?”, é esmagadora e também inspiradora.

Como a propósito de realizações notáveis de atletas com algum tipo de deficiência noutras modalidades tenho afirmado, a vida de muitas pessoas com deficiência é, na verdade, uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, que ampliam de forma inaceitável a limitação na mobilidade e a funcionalidade em diferentes áreas que a sua condição, só por si, pode implicar. Como é evidente, existem muitas áreas de dificuldades colocadas às pessoas com deficiência, designadamente, educação e emprego em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes.

Reafirmo algo que recorrentemente subscrevo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como lidam com as minorias e as suas problemáticas.

Como é habitual o feito desportivo de Marta Paço não terá o relevo que merecia. As primeiras páginas, mesmo no desporto, não são para estes indivíduos, as pessoas com deficiência não têm "glamour", não enchem estádios e não fazem movimentar milhões, não são colunáveis, são apenas, simplesmente, campeões, a sério.


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