Este fim-de-semana depois de fabricar a terra dos pomares com o escarificador foi tempo para continuar a apanha das nozes aqui no Monte. É quase sempre na altura da Festa da Sra. D’Aires que também este ano ainda não se realizou por causa do maldito vírus que ainda nos inferniza a vida.
Acabámos há pouco a tarefa,
apenas restam as nozes altas de uma nogueira que ficarão para ser batidas para
a semana, as costas já protestam ainda que a vara não seja muito pesada, a
modernice do carbono veio ajudar, é uma das que usamos para varejar as oliveiras.
Sempre que colhemos as nozes recordo uma história, uma de muitas, que o Mestre
Zé Marrafa me contou.
Dizia ele que há uns quarenta ou
cinquenta anos lá para trás no tempo trabalhava para um lavrador muito velhaco,
muito malino, naquele tempo havia muitos sublinhou, que obrigava as moças que
trabalhavam na herdade a colher as nozes sempre no dia antes de começar a festa
da Sra. D’ Aires, estivessem ou não prontas para colher.
Face à minha estranheza explicou
que naquele tempo não se usavam luvas e que as mãos ficam tão negras e
impregnadas com o óleo do invólucro das nozes que as moças tinham que ir à
festa com as mãos num estado lastimoso. É verdade, não sei se já passaram pela
experiência, por isso eu uso luvas de trabalho para tal tarefa.
Esse mesmo lavrador para castigar
os homens determinava tarefas “sujas” logo no início da semana levando a que a
roupa de trabalho das pessoas ficasse em mísero estado para o resto da semana.
Naquele tempo era assim, não seria só assim, mas era também assim.
Às vezes, coisas de velho já se
vê, parece-me não haver memória.
Mas o Velho Marrafa não esqueceu.
E eu acho que é bom recordar.
Amanhã será a vez de colher azeitona
para retalhar e conserva, mal posso esperar pelo sabor das azeitonas novas.
E são assim os dias do Alentejo
REINO DE BABEL – O KEBAB DOCENTE
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