Contrariamente ao que se passa com polémicas, muitas vezes inconsequentes ou com problemas conhecidos, as boas notícias em educação têm quase sempre uma divulgação discreta. Trata-se, provavelmente, de uma questão cultural e/ou de uma questão de gestão de interesses e agendas que, aliás, se traduz na corrida aos testes de paternidade.
Segundo dados do INE agora divulgados, em 2020 a taxa de
abandono precoce, um indicador relativo à percentagem de jovens com mais de 18
anos que chega ao mercado de trabalho sem completar o ensino secundário e não está a cumprir um programa de formação, foi de 8,9%.
Com este indicador Portugal fica abaixo da meta comprometida com a UE, 10%. Na última década o abandono escolar precoce tem vindo a baixar sistematicamente sendo que em 2019 foi de 10.6%, 11.8% em 2018 e a 12.6% em 2017.
Uma primeira nota para registar a evolução positiva, realçar
o trabalho de alunos, professores, escolas e famílias. Ao que leio na imprensa
o ME já veio a terreiro saudar as comunidades educativas atribuindo a evolução
ao sucesso das escolas TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária)
Programa de Promoção do Sucesso Escolar, ao Apoio Tutorial Específico, à aposta
no Ensino Profissional, e Autonomia e Flexibilidade Curricular e, obviamente, a
revolução na educação inclusiva.
A segunda nota para relembrar o caderno de encargos que
ainda continuamos a ter pela frente, continuar a combater o abandono e a
exclusão, quase sempre a primeira etapa da exclusão social, promover a
qualificação, um bem de primeira necessidade e combater as desigualdades
criando efectivos dispositivos de mobilidade social em que a escola faz a
diferença e pode ajudar a contrariar o destino.
Só assim se promove a construção de projectos de vida
viáveis e proporcionadores de realização pessoal e base do desenvolvimento das
comunidades.
Neste caminho temos duas vias que se complementam e de igual
importância, a prevenção do insucesso que leva ao abandono e a recuperação para
trajectos de formação e qualificação da população que, entretanto, já
abandonou.
Esperemos que a existência de dispositivos de apoio
competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores na
generalidade das comunidades educativas seja uma opção clara pois é uma ferramenta
imprescindível à minimização do insucesso.
No que respeita à recuperação dos jovens que já abandonaram
espero que a oferta de trajectos diferenciados de formação e qualificação ou
iniciativas em desenvolvimento como o programa Qualifica, sucessor do Novas
Oportunidades, ou os anunciados no âmbito do ensino superior tenha os meios
necessários e se resista à tentação do trabalho para a “estatística”,
confundindo certificar com qualificar.
Neste cenário, também é de registar a aproximação da taxa de
escolarização no ensino superior, 39,6% ao objectivo estabelecido para 2020, 40%.
Apesar dos indicadores de progresso é necessário insistir, merecemos
e precisamos de mais e melhor sucesso e qualificação e menos abandono e
exclusão.
Não comungo do entusiasmo. Não porque, a ser verdade, ainda existe 8,9%, quando deveria ser 0%. Para quem vive todos os dias no meio escolar, ainda por cima numa escola TEIP (Território Educativo de Irracionalidade Partilhada), sabe muito bem da engenharia que é feita e que está na base deste número, começando desde logo pelo próprio conceito de abandono escolar (tratado pela tutela para lhe dar razão).
ResponderEliminarSobre os PEC (Projetos de Educação Compensatória), no nosso país denominado TEIP, os factos falam por eles: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362018000301058&lng=pt&tlng=pt