Durante a manhã ouvi num espaço
de notícias na rádio uma peça sobre o regresso dos alunos do ensino secundário
a algumas aulas.
A peça continha testemunhos de
estudantes do 12º ano.
Numa das primeiras intervenções
uma aluna afirmava que não voltaria às aulas presenciais.
A justificação foi qualquer coisa como: “Não, não volto às aulas, estou a preparar-me
para os exames. Disseram-me que nas aulas ia ser dada matéria. Assim não volto.
Tenho que me preparar para os exames”.
Trata-se de um excelente exemplo no
sentido da necessidade e urgência no repensar do modelo de acesso ao ensino
superior como recorrentemente aqui tenho referido.
O modelo existente alimenta um
enorme equívoco, o ensino secundário é o tempo da preparação para o ensino
superior, ou seja, preparar para os exames de acesso.
Como transparece do testemunho da
aluna o ensino secundário não é percebido com um valor formativo em si próprio,
é sobretudo percebido como um tempo de explicações para exame. As aulas para dar matéria não "interessam", não são a preparação para o exame.
O ensino secundário e trajectos
equivalentes é, para a generalidade dos alunos, o terminar da escolaridade
obrigatória, que lhe terá permitido o acesso a um conjunto alargado de saberes
e competências bem mais vasto que o domínio de alguns saberes sujeitos a exame
para a entrada no curso desejado.
Este conjunto importante e
necessário de saberes é avaliada pelas escolas e também me parece importante
que o seja de forma externa como instrumento regulador. O conjunto avaliação
interna e externa tem como função regular, certificar e terminar o processo de
avaliação do secundário.
O acesso ao superior é uma outra
questão na qual, evidentemente terá impacto a avaliação final do secundário,
mas não apenas este critério. Também me parece que este processo deve ser da
responsabilidade superior e pode ser gerido e operacionalizado de uma forma
integrada e não instituição a instituição. Aliás, o que parece estar a ser
desenhado para os alnos dos cursos profissionais num processo regionalizado vai
neste sentido.
Enquanto não conseguirmos alterar
este modelo, para a maioria dos alunos e famílias o ensino secundário será percebido
como pouco mais que a sala de explicações para preparar para os exames que
determinam o acesso.
Este tipo de equívoco, por outras
razões, começa cedo. A educação pré-escolar é percebida por muitas famílias
como a “preparação “ para escola e nem sempre lhe é reconhecida o seu
extraordinário valor enquanto tempo educativo próprio, com objectivos próprios,
com um impacto no desenvolvimento global dos miúdos que se reflecte bem para lá
da “simples” preparação” para entrar na escola.
Mas o acesso ao ensino profissional será feito através de exames feitos pelo ensino superior (primeiro até foi anunciado que não haveria exames nacionais) que, tendo caráter regional ninguém sabe em que se basearão. Se não se basearem nos programas escolares serão justos? Os alunos vão ter de estudar temas novos para esses novos exames? E a diferença de grau de dificuldade entre os exames do norte, do centro e do sul (como acontece em Espanha)? Não vejo vantagem nenhuma nesse sistema!
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