AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 14 de maio de 2020

EU NÃO VOLTO ÀS AULAS, TENHO QUE ME PREPARAR PARA OS EXAMES


Durante a manhã ouvi num espaço de notícias na rádio uma peça sobre o regresso dos alunos do ensino secundário a algumas aulas.
A peça continha testemunhos de estudantes do 12º ano.
Numa das primeiras intervenções uma aluna afirmava que não voltaria às aulas presenciais.
A justificação  foi qualquer coisa como: “Não, não volto às aulas, estou a preparar-me para os exames. Disseram-me que nas aulas ia ser dada matéria. Assim não volto. Tenho que me preparar para os exames”.
Trata-se de um excelente exemplo no sentido da necessidade e urgência no repensar do modelo de acesso ao ensino superior como recorrentemente aqui tenho referido.
O modelo existente alimenta um enorme equívoco, o ensino secundário é o tempo da preparação para o ensino superior, ou seja, preparar para os exames de acesso.
Como transparece do testemunho da aluna o ensino secundário não é percebido com um valor formativo em si próprio, é sobretudo percebido como um tempo de explicações para exame. As aulas para dar matéria não "interessam", não são a preparação para o exame.
O ensino secundário e trajectos equivalentes é, para a generalidade dos alunos, o terminar da escolaridade obrigatória, que lhe terá permitido o acesso a um conjunto alargado de saberes e competências bem mais vasto que o domínio de alguns saberes sujeitos a exame para a entrada no curso desejado.
Este conjunto importante e necessário de saberes é avaliada pelas escolas e também me parece importante que o seja de forma externa como instrumento regulador. O conjunto avaliação interna e externa tem como função regular, certificar e terminar o processo de avaliação do secundário.
O acesso ao superior é uma outra questão na qual, evidentemente terá impacto a avaliação final do secundário, mas não apenas este critério. Também me parece que este processo deve ser da responsabilidade superior e pode ser gerido e operacionalizado de uma forma integrada e não instituição a instituição. Aliás, o que parece estar a ser desenhado para os alnos dos cursos profissionais num processo regionalizado vai neste sentido.
Enquanto não conseguirmos alterar este modelo, para a maioria dos alunos e famílias o ensino secundário será percebido como pouco mais que a sala de explicações para preparar para os exames que determinam o acesso.
Este tipo de equívoco, por outras razões, começa cedo. A educação pré-escolar é percebida por muitas famílias como a “preparação “ para escola e nem sempre lhe é reconhecida o seu extraordinário valor enquanto tempo educativo próprio, com objectivos próprios, com um impacto no desenvolvimento global dos miúdos que se reflecte bem para lá da “simples” preparação” para entrar na escola.

1 comentário:

  1. Mas o acesso ao ensino profissional será feito através de exames feitos pelo ensino superior (primeiro até foi anunciado que não haveria exames nacionais) que, tendo caráter regional ninguém sabe em que se basearão. Se não se basearem nos programas escolares serão justos? Os alunos vão ter de estudar temas novos para esses novos exames? E a diferença de grau de dificuldade entre os exames do norte, do centro e do sul (como acontece em Espanha)? Não vejo vantagem nenhuma nesse sistema!

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