AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

APESAR DE TUDO A ESCOLA PÚBLICA RESISTE


O texto de Luís Aguiar-Conraria no Público, “Para lá dos exames, que escolas preparammelhor os alunos? As privadas ou as públicas?”, merece leitura. Reflecte sobre a diferença no percurso universitário de alunos que realizaram o ensino secundário em estabelecimentos de ensino privado e dos sesu colegas que estudaram em escolas públicas. Recorre a dados de um trabalho realizado pela Universidade do Porto.
(…) o ranking das escolas feito com base nas notas que os seus estudantes tiveram nos exames não tem qualquer relação com o ranking feito com base na performance dos estudantes do 1.º ano da universidade. Quando digo que não tem nada a ver, estou a pecar por defeito. Na verdade, a correlação entre os dois rankings é mesmo negativa! Por exemplo, entre as escolas que estão no top 5 dos rankings obtidos a partir dos exames nacionais, duas estão também entre as 5 piores quando se analisa a performance dos seus ex-alunos na universidade: o Externato Ribadouro do Porto e o Colégio D. Diogo de Sousa. Curiosamente, ambas estão referenciadas como escolas que sistematicamente inflacionam as notas dos seus alunos.  (…)
Lembrei-me que em 2013 tinha aqui colocado um texto justamente sobre a mesma questão, “Apesar de tudo a escola pública resiste”. O que escrevi foi também baseado num trabalho da Universidade do Porto divulgado em 2012.
Recupero um excerto.
(…)
Um estudo realizado pela Universidade do Porto vem confirmar que os estudantes do ensino superior oriundos do ensino secundário do subsistema privado, embora com padrão superior de notas nos exames nacionais, revelam ao longo do ensino superior, no primeiro ciclo, um pior desempenho que os alunos provenientes das escolas públicas. Dito de outra maneira, os alunos do ensino privado parecem melhor preparados para os exames e para a entrada no ensino superior, hipotecada às notas dos exames finais e das avaliações internas traduzidas nos rankings, e menos preparados para as exigências do ensino superior que os alunos das escolas públicas.
A situação não traz nada de novo, creio que quem conhece razoavelmente o sistema educativo português conhece circunstâncias em que a frequência de alguns estabelecimentos de ensino privado é "premiada" com classificações internas mais "generosas", por assim dizer. (Algumas destas escolas estão referenciadas por Luís Aguiar- Conraria e com inquéritos da IGEC)
O mesmo estudo levanta também sérias reservas a leituras apressadas dos rankings e à sua construção. Como muitas vezes aqui tenho referido a forma como nos colocamos perante a questão estruturante, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos" contamina tudo que se possa fazer em termos de medida e classificação em política educativa.
Nesta matéria é ainda relevante sublinhar que as diferenças que se encontram no acesso ao superior por parte de alunos do ensino secundário privado se esbatem pois, nos 10% de alunos que terminam a formação com notas mais altas, predominam os alunos oriundos do secundário público o que é interessante e, como disse, não surpreendente.
Entre nós é frequente, e do meu ponto de vista desajustado, dicotomizar de forma excessiva a questão educativa entre privado vs público. Na verdade, entendo a existência de um subsistema educativo de ensino privado como absolutamente necessária para, por um lado permitir alguma liberdade de escolha, ainda que condicionada, por parte das famílias e, por outro lado, como forma de pressão sobre a qualidade do ensino público. (…)
Parece que a consistência destes indicadores está para durar.

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