Nos últimos anos tem-se mantido uma situação que me parece
curiosa, o número de situações em que após reapreciação face a recurso as notas
dos exames finais, sobretudo no secundário, sobem. Também me parece curiosa a forma
discreta como esta situação é acolhida.
Neste sentido, nas duas fases dos exames de 18/19 do ensino secundário, 5095
alunos recorreram e em 75% das reapreciações os resultados subiram.
Sabe-se que a avaliação escolar é um processo que contém uma incontornável
dimensão de subjectividade e complexidade, por isso, é necessário um trabalho
muito consistente ao nível da qualidade dos exames, da solidez, clareza e
coerência dos critérios de avaliação e, naturalmente, da competência dos
avaliadores. Estes aspectos são, aliás, objecto de frequentes referências na
imprensa durante a época de exames. Também este ano e como forma de perceber a
percentagem elevada de alterações, alguns docentes referem a questão da
subjectividade e alguns constrangimentos do processo de correcção como o pouco tempo
disponível.
Como explicar tal número de recursos acolhidos, na maioria
subindo a classificação? Por outro lado, também me parece de considerar o risco
de alguma perda de confiança no processo de avaliação. Conheço muitas situações em que professores aconselham os alunos a recorrer pois a probabilidade de conseguir melhoria na nota melhorada é grande.
Creio que há dois anos, também na altura em foram conhecidos
os resultados dos recursos, a professora Leonor Santos da Universidade de
Lisboa, especialista em avaliação das aprendizagens, afirmava em entrevista ao
Público que aqui citei na altura devido ao seu interesse, a existência de
estudos que confirmam a tendência de a subida de notas nos processos de
reapreciação. Entende que tal situação decorre mais da “atitude de base” do
classificador que de erros cometidos. Afirma, “Há investigação que já
demonstrou que a preocupação dos avaliadores que estão a classificar pela
primeira vez é a de manter os mesmos critérios para todas as provas. Mas quando
está a fazer uma revisão de prova, a sua atitude é completamente diferente:
tenta aproveitar tudo o que for possível”.
Não sou especialistas nestas matérias, mas julgo que
deveriam ser, tanto quanto possível, ponderadas e consideradas para que os
exames e a sua classificação mereçam a confiança de alunos e famílias.
Não me choca nada que o número de provas que são reapreciadas fiquem com um resultado superior. Para além de toda a especulação que lança no seu texto, deve referir-se o fator risco de pedir a reapreciação, pelo que os alunos apenas o fazem se houver forte possibilidade de subir. Consultam professores e explicadores e têm um parecer prévio. Se porventura a nota estiver sobrevalorizada, naturalmente que não avança com esse processo.
ResponderEliminarPor outro lado, a reflexão que se deve ter é quanto aos primeiros classificadores. Há muitos professores a corrigir sem ter em conta os critérios definidos, o que leva a tantos pedidos de reapreciação.