Estamos a poucos dias do início das aulas
Na imprensa de hoje refere-se que no âmbito do Projecto-piloto
de Inovação Pedagógica, dos gémeos DL 54 e 55 de 2018 e da Portaria n.º
181/2019 foram aprovados 50 Projectos de Inovação apresentados por agrupamentos
e escolas.
Estes 50 projectos de inovação correspondem a 6% do universo
de agrupamentos. Assim como ninguém acredita que os projectos experimentais de
inovação mostraram uma capacidade mágica de promoção de sucesso, também não é
de crer que os agrupamentos que não se candidataram a à Inovação estarão condenados
à rotina e ao fracasso por falta de iluminação fornecida pelas luzes da
inovação.
O I, com chamada a primeira página, aborda as “escolas que
estão a revolucionar o ensino”. Ainda bem, “o mundo é composto de mudança”, mas,
lá está, fico preocupado com as escolas que não fazem revoluções e dos riscos
para as populações, professores, direcções, técnicos, funcionários e alunos que
nelas estão envolvidos.
No final da próxima semana começam os alunos a chegar às
escolas, às inovadoras, às revolucionárias e às “paradas” sem projecto inovador e, muito menos, sem revolução.
A única certeza que temos é a diversidade presente em
qualquer grupo de alunos de qualquer meio, escola ou ano de escolaridade, pelo
que o desafio será responder adequadamente a essa diversidade através de
processo diferenciados de trabalho, dentro e fora da sala de aula. Indo um
pouco mais longe nas práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio
de diferenciação umas notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não
tem a ver com “inovação”, termo cuja utilização frequente me irrita um bocado.
A questão central pode ser alterar e não inovar ou revolucionar, são de há
muito conhecidas boas práticas que diariamente são mobilizadas em muitas
escolas quase sempre com pouca divulgação, até mesmo interna.
Mas para que isto seja consistente e não localizado também
sabemos que o sucesso se constrói identificando e prevenindo dificuldades de
forma precoce, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de
dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e
professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro
normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia,
organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto
e médio prazo, com a valorização do trabalho dos professores, com práticas de
diferenciação e expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com
melhores níveis de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer
para alunos, etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo, nem de revolucionário.
Finalmente, também li uma entrevista extensa do Ministro da
Educação à Visão e fiquei com alguma preocupação. Em matéria de políticas
públicas de educação, estranhamente, nada de substantivo. É verdade que não
esperava Inovação ou algo de Revolucionário, mas, como hei-de dizer ... foi simples,
por assim dizer. Talvez o Senhor Ministro estivesse um pouco “à rasca” para
falar de educação, recorrendo a uma expressão de elevado recorte por si usada
na entrevista.
As aulas vão começar na próxima semana. Daí este meu
cansaço.
Gosto quando se argumenta no sentido daquilo que se defende, mas não o vou fazer hoje, aqui, não me apetece, vou, como costumo dizer, perder uma oportunidade para estar calado.
ResponderEliminarVou também eu dar força à sustentação completamente errada e irresponsável que pretendem fazer com estas inovações, num exercício de desmontagem através da dialética, personificando uma pessoa totalmente alheia ao conhecimento sobre a matéria, um leigo (em linguagem elaborada), um ignorante vá (em linguagem dita normal), enfim, um burro (em vernáculo).
Então lá vai:
Se isto é a melhor coisa para o sucesso escolar, o que é que o governo está à espera para obrigar todas as escolas a aderirem através da produção de legislação para o efeito?