AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

DA AVALIAÇÃO DAS ESCOLAS. MAIS UMA INFORMAÇÃO


Numa interessante estratégia de comunicação, através de notas à comunicação social, o ME continua a divulgar informação avulsa sobre o desenho do novo ciclo de avaliação das escolas a iniciar em Abril. Desta vez ficámos a saber que o dispositivo de avaliação incluirá a observação de aulas, ideia que, aliás, não é nova.
Já sabíamos que a “inclusão” será um “indicador-chave” da avaliação através de uma “métrica qualitativa” que ainda não conhecemos mas assente ao que parece na análise dos “percursos directos de sucesso”. Também se sabe que a avaliação das escolas envolverá as escolas profissionais privadas e os estabelecimentos de ensino privado com contrato com o ME sendo que outras instituições privadas também podem ser avaliadas por sua iniciativa.
Depois de ter sido divulgada a mudança na orientação de que para a função de inspector ser seria necessário ser professor, também sabemos que as equipas de avaliação serão constituídas por inspectores e “peritos externos” seleccionados por instituições de ensino
Algumas notas a partir de reflexões anteriores, algumas bem recentes.
A avaliação é, seguramente, uma ferramenta de promoção e regulação da qualidade do trabalho desenvolvido o que a torna imprescindível nos vários patamares do sistema. Em Portugal, no universo da educação, a avaliação, seja de alunos, de professores ou das escolas tem sido um terreno de enorme instabilidade, seja pela incoerência e incompetência de diferentes iniciativas do MEC, seja pela contaminação da normal conflitualidade a que acrescem interesses de agendas diferenciadas. Tal contexto tem-se traduzido numa volatilidade espantosa de decisões, algumas inaceitáveis como a sinistra PACC para avaliar Conhecimentos e Capacidades para o acesso à carreira de professor, mudanças e alterações que nem tempo têm se ser avaliadas antes de ser novamente ... alteradas e sempre recebidas reactivamente.
Gostava também que o novo ciclo avaliativo pudesse desburocratizar a forma como a avaliação interna e externa é realizada, altamente burocratizada, solicitando uma carga enorme de informação, extensa, redundante e parte dela inútil, da forma que é requerida. A produção desta informação consome centenas de horas de trabalho a muitos docentes e que são retiradas à essência do seu trabalho.
O nível de informação solicitada e as regras impostas de funcionamento e organização mostra, de facto, um sistema altamente centralizado, burocratizado e com a tentação de manter um controlo absoluto sobre a organização e funcionamento das escolas.
Integrar a observação das aulas nos dispositivos de avaliação das escolas, como, aliás e de forma alargada na avaliação de professores importante e positivo. Aliás, na grande maioria dos sistemas educativos integrados na OCDE é isso que se passa em matéria de avaliação de escolas.
Recordo um Relatório da rede Eurydice, "Assuring Quality in Education — Policies and Approaches to School Evaluation in Europe" de 2015 sobre a avaliação da qualidade das escolas e dos modelos e dispositivos utilizados em 31 sistemas educativos europeus, todos os da UE bem como Islândia, Noruega, Turquia e Macedónia e no qual se verificava que Portugal é um dos três países que não recorre a esta metodologia.
É verdade que matéria é mais uma das muitas em que a polémica é forte. Recordem-se as discussões sobre a observação de aulas no contexto da avaliação de professores e os discursos, práticas e equívocos instalados.
Neste cenário parece importante que com tempo e com discussão participada se construísse o dispositivo de avaliação incluindo a observação de aulas, as equipas avaliadoras, o método, os conteúdos em avaliação, os critérios a utilizar, a forma como são consideradas as tipologias das escolas face a população e contexto, dimensão e características dos grupos/turmas, etc.
Finalmente e como escrevi há dias, a avaliação, sendo imprescindível na promoção da qualidade é tanto mais eficaz nessa função quanto mais competente e simples possa ser. A avaliação também não pode servir para “certificar” ou “validar” aquilo que já “sabemos” ou “queremos” encontrar para "fabricar" sucesso. Temos tido exemplos estimulantes nesta matéria.
Aguardemos para ver ou pela próxima nota à comunicação social.

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