AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 6 de janeiro de 2019

O FRIO DA INFÂNCIA


Segundo as previsões e conforme já sentimos o frio chegou à generalidade do país, nada de novo, estamos no Inverno, é tempo dele, do frio, como falam os antigos.
Como é habitual surgem os conselhos e o anúncio de medidas de protecção dirigidas aos grupos mais vulneráveis, crianças, idosos ou sem-abrigo.
Sempre que penso nesta questão, miúdos com frio, recordo-me, já aqui o escrevi, da narrativa de Juan José Millás em "O Mundo – O mundo é a rua da tua infância”" quando enuncia, “Quem teve frio em pequeno, terá frio para o resto da vida, porque o frio da infância nunca desaparece”.
Na verdade, no Inverno ou até no Verão, existem muitos miúdos que passam frio, às vezes muito frio, e nem sempre conseguimos dar por isso. Acontece até que alguns deles sentem frio em ambientes muito aquecidos ou mesmo no Verão, como disse. Não se trata do frio que vem de fora, daquele de que falam os alertas coloridos que que agora estão visíveis, seria “fácil” minimizar esse frio se assim se quisesse. É, antes, o frio que está à beira, um bloco de gelo disfarçado de família, de escola ou de instituição de acolhimento, é o frio que vem de dentro e deixa a alma congelada. Do frio que vem de fora, apesar de incomodar, acho que, quase sempre, nos conseguimos proteger e proteger os miúdos, mas dos frios que estão à beira e dos que vêm de dentro nem sempre o conseguimos fazer porque também nem sempre os entendemos e estamos atentos ao frio que tolhe muitas crianças e adolescentes.
Apesar de sentir confiança na resiliência dos miúdos, expressa em muitíssimas situações de gente que sofreu e resistiu a experiências dramáticas, uns mais que outros naturalmente, parece-me fundamental que estejamos atentos aos frios da infância.
Muitas vezes, como diz Millás, quem teve frio em pequeno terá mesmo frio no resto da vida.
Quando olhamos para muitos adultos à nossa volta parece claro o frio que terão passado na infância.

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