AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 17 de novembro de 2018

O TEMPO DA AZEITONA


O lagar abriu e começou a lida da azeitona no Meu Alentejo. Este ano a produção é mais baixa mas ainda assim pelo resultado da manhã melhor do que estávamos à espera. Não é estranho, depois de um ano bom vem um menos bom, pelo menos por aqui.
Na apanha da azeitona ainda usamos o velho método, é coisa brava, com o frio serve para aquecer mas hoje o dia vai brando apesar do vento que anuncia água para amanhã
Os braços ficam moídos de varejar e carregar mas impressionante mesmo, é ver a resistência do Velho Marrafa, homem de mais de setenta anos e que ainda tem a gentileza e generosidade de me deixar trabalhar com a vara mais leve, ameaçando seriamente a minha auto-estima mas protegendo os meus braços e costas.
Este ano temos a ajuda do sobrinho, o Rui, as minhas costas já não são o que eram e as varas parecem mais pesadas. Ou então é impressão minha e ainda só passou a manhã.
O Velho Marrafa tem um entendimento que eu não me atrevo a discutir sobre a apanha da azeitona aqui no monte, isto é, ao mesmo tempo que se apanha a azeitona procede-se à limpeza das oliveiras. O resultado é que me transformo num agricultor em apuros, estendem-se os panos, colhe-se a azeitona numa catártica actividade de varejamento, corta-se o que há a cortar nas árvores com a motosserra, ensaca-se e carrega-se no tractor. Depois lá vamos a caminho do lagar para a pesagem e entrega. Ainda fica o tratar da lenha sobrante, esgalhar os ramos e traçar a mais grossa para a lareira e para a salamandra, nada se perde mas isto fica para depois da apanha.
O tempo de espera no lagar, que espero curtinho, passa-se nas lérias e os temas de conversa vão surgindo mas quase sempre, não podia deixar de ser, andam à volta dos enleios e das molengas em que a vida da gente se transformou e da pouca rentabilidade que tanto trabalho dá.
Acho que só lá para o fim de Dezembro quando for ao lagar para buscar o azeite, com o ambiente quentinho das enormes salamandras que impede o azeite de coalhar e o cheirinho inconfundível do azeite novo é que me vou esquecer das agruras da apanha da azeitona.
Bom, lá vou voltar para a lida. São também assim os dias do Alentejo.

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