Partindo de uma referência ao livro “Niñ@s
hiper: Infâncias Hiperactivas, Hipersexualizadas, Hiperconectadas” de de Ramón
Ubieto e de Pérez Álvarez, o DN tem uma peça que merece reflexão séria. Os autores
abordam o que aparece designado por “naming”, a preocupação em encontrar um nome para dar a qualquer
comportamento observado numa criança que seja considerado não adequado ou não “normal”.
De acordo com o que se tem como
expectativa de comportamento, capacidades e competências e desempenho
adequados as crianças são “rotuladas”
com uma qualquer designação quando tal expectativa não se verifica.
Este processo pode envolver o
contexto escolar, familiar ou a intervenção de técnicos. Pode ainda acontecer
com a ajuda do Dr. Google que sempre disponibiliza um extenso de volume de informação sobre o que quer que seja.
Este processo de “rotulagem”
acaba por cumprir um papel justificativo, explicativo, do comportamento
observado, a criança é “assim” porque tem “isto” o que, aparentemente pode
descansar os que lidam com a criança. No entanto, para muitas crianças
pode ser algo de profundamente negativo.
Muitas vezes tenho referido esta
questão no Atenta Inquietude e retomo algumas notas
De facto, a forma como olhamos,
intervimos e exigimos dos comportamentos e resultados escolares dos mais novos
mostram que de há uns tempos para cá uma boa parte dos miúdos e adolescentes
parece ter adquirido uma espécie de prefixo na sua condição, o "dis",
passam a "dismiúdos".
Se bem repararem a diversidade é
enorme, ao correr da lembrança temos os meninos que são disléxicos em gama
variada, disgráficos, discalcúlicos, disortográficos ou até distraídos.
Temos também as crianças e
adolescentes que têm (dis)túrbios ou perturbações. Estes também são das mais
diferenciadas naturezas, distúrbios do comportamento, distúrbio do
desenvolvimento, distúrbios da atenção e concentração, distúrbios da memória,
distúrbios da cognição, distúrbios emocionais, distúrbios da personalidade,
distúrbios da actividade, distúrbios da comunicação, distúrbios da audição e da
visão, distúrbios da aprendizagem ou distúrbios alimentares.
Como é evidente existem ainda os
que só fazem (dis)parates e aqueles cujo ambiente de vida é completamente
(dis)funcional ou se confrontam com as (dis)funcionalidades em muitos
contextos escolares, número de alunos por turma excessivo, currículos
desajustados, falta de apoios, etc.
Pois é, há sempre um
"dis" à espera de qualquer miúdo e senão, inventa-se, "ele tem
que ter qualquer coisa".
De forma propositadamente
simplista costumo dizer que algumas destas crianças não têm perturbações do
desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem, experimentam perturbações no
envolvimento e sentem dificuldades na “ensinagem”.
Agora um pouco mais a sério,
sabemos todos que existe um conjunto de problemas que pode afectar crianças e
adolescentes, esses problemas devem ser abordados, diagnosticados e, se
necessário, recorrer a medicação mas, felizmente, não são tantos as situações
como por vezes parece. Inquieta-me muito a ligeireza com que frequentemente são
produzidos "diagnósticos" e rótulos que se colam aos miúdos, dos
quais dificilmente se libertarão e que pela banalização da sua utilização se
produza uma perigosa indiferença ou falsas explicações sobre o que se observa
nos miúdos.
As consequências podem ser graves.
Mais do que "rotulá-los", o importante é considerá-los capazes e mediar com base nas suas necessidades e interesses o seu processo de aprendizagem.
ResponderEliminarAbraço