Ao que se lê na imprensa parece
confirmar-se que a partir do próximo ano lectivo se generalizará de forma faseada
a redução do número de alunos por turma.
Como se sabe, a medida em
desenvolvimento contempla apenas os considerados Territórios Educativos de
Intervenção Prioritária. A decisão será colocada em prática de forma faseada
como parece estar em moda. Começando em 18/19 pelos anos iniciais de cada ciclo
o objectivo é atingir o que estava estabelecido antes da alteração promovida
por Nuno Crato em 2013, máximo de 24 alunos no 1º ciclo e de 28 nos restantes
ciclos do Básico.
Sabe-se que o número de turmas
que terão o seu efectivo reduzido pode não ser de dimensão muito significativa.
No entanto, se as que existem forem alteradas será potencialmente um ganho.
Como já escrevi, seria desejável
que em conjunto com a redução do efectivo de turma se considerasse um outro
importante aspecto nem sempre valorizado, o número de alunos por professor.
Muitos professores lidam com muitas turmas perfazendo números acima dos 120 ou
150 alunos. Parece dispensável explicitar as implicações negativas desta
situação.
A revisão de estudos sobre o
número de alunos por turma e o seu impacto mostra o que também conhecemos,
existem vantagens em turmas de menor dimensão que podem ser mais ou menos
significativas em função das variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os
estudos sugerem com clareza a existência de impacto positivo no clima e
comunicação na sala de aula, na maior facilidade de práticas educativas mais
diferenciadas, no comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser
considerado.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas mas também me parece que
nem sempre são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo, o
que frequentemente também não é tido em conta nos discursos de alguns
economistas da educação.
É também fundamental considerar
as diferentes características dos diversos territórios educativos. O facto de
começar pelos TEIP percebeu-se numa lógica de faseamento mas a verdade é que
todos os territórios educativos são TEIPs, os de Intervenção Prioritária e os
outros em que realiza a Intervenção Possível.
Na verdade, é necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características e dimensão da escola, a constituição do corpo
docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade
e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores,
sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar,
vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos
de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, recursos e dispositivos de apoios, bem como o nível de
autonomia de cada escola ou agrupamento, entre outros. Daí a importância de
promover uma autonomia real. Aliás, dentro do que entendo por verdadeira
autonomia das escolas, deveriam ser a ter a competência para definir e
organizar as turmas embora aceite a existência de orientações nesse sentido.
Aliás, também com base na
autonomia das escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença
de dois professores em sala de aula. Em algumas circunstâncias pode ser mais
vantajosa que a redução do número de alunos por turma.
Acresce nesta matéria a importância
da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades educativas
especiais o que, evidentemente, deve ser considerado na análise do efectivo de
turma, desde logo cumprindo o que está legislado e acautelar a tentação de “inclusões
administrativas” em que os alunos ficam “entregados” e não “integrados”.
Diga-se ainda que é quase
dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num
estabelecimento privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos
num mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos
professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira
desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua
organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores
para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido
são politicamente difíceis mas parecem-me imprescindíveis. Terão custos
certamente mas os custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais
caros.
Amigo Zé, o ministério continua a tentar saber o sexo dos anjos...
ResponderEliminarLamentável que, em pleno século XXI, se continue a falar de turma, aula e outros absurdos.
Abraço fraterno!
José