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segunda-feira, 8 de maio de 2017

A MATEMÁTICA É UMA COISA DIFÍCIL

A Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou um estudo “Resultados escolares por disciplina - 2º ciclo - ensino público" relativo ao ano de 2014/2015 a que o Observador faz referência.
Para além de outros dados, salienta-se que a Matemática é claramente a disciplina que os alunos têm menor desempenho. Cerca de 30% dos alunos tiveram resultado negativo e é também a disciplina em que os alunos sentem mais dificuldade em recuperar, passar de resultado negativo para resultado positivo.
Registe-se ainda a relação entre o desempenho escolar e o contexto socioeconómico familiar, no 5º ano 44% dos alunos no escalão máximo de acção social escolar tiveram negativa a Matemática, 28% dos alunos no segundo escalão e 16% não envolvidos em dispositivos de apoio.
Relativamente a este último aspecto os resultados mostram o que todos conhecemos, a associação entre variáveis de contexto socioeconómico e os resultados escolares, o que todos desejamos, que a escola possa fazer a diferença e contrariar o destino. As boas práticas e experiências conhecidas mostram que é possível. Não podemos falhar.
Quanto à questão mais particular dos piores resultados em matemática e que, evidentemente, não começam no 2º ciclo, nem aí acabam, a sua explicação é complexa.
Estes resultados serão influenciados, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis, desde logo como já vimos pelas circunstâncias sociodemográficas onde não pode deixar de se incluir, o nível de escolaridade dos pais.
Por outro lado, variáveis como modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes de aprender matemática.
É também conhecido que os pais com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de ajuda externa.
Finalmente uma outra variável neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje e de um a forma geral existe uma percepção passada nos discursos de que matemática é uma “coisa difícil” e que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante.
De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não podemos falhar.

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