Era uma vez uma escola onde, como
em todas escolas, havia uma miúda que de entre as que se portavam mal, era a
que se portava pior. Chamava-se Sara. Andava sempre metida em alguma encrenca,
respondia de forma desadequada aos professores, de vez em quando até dizia uma
asneira, enfim, aquele tipo de comportamento que caracteriza um caso de
indisciplina, não de delinquência.
Nesse ano chegou à escola uma
professora ainda nova, a Ana, a quem foi dada a turma da Sara. Os professores
da turma bem avisaram a Ana para os problemas que certamente iria encontrar e
de tal maneira o fizeram que a Ana começou o ano com medo mas também com
curiosidade. Claro que logo no primeiro dia percebeu quem era a Sara, umas
exclamações a destempo, umas perguntas para “gozar” e por aí.
Este comportamento aguçou a
curiosidade da Ana que no início da segunda aula disse à Sara que gostava de
falar com ela no fim. Contrariamente ao que a Sara esperava, a professora não
lhe falou do comportamento, perguntou-lhe com que é que sonhava, de que coisas
fora da escola gostava, o que fazia nos fins-de-semana, ou seja, quis conhecer
melhor a Sara “pessoa” uma vez que já ia conhecendo a Sara “aluna”.
Com um par de conversas a relação
entre as duas na sala de aula começou a correr melhor. Uma das alunas da turma
disse à professora Ana que tinha ido uma vez a casa da Sara, ela fazia anos, e
comeu um bolo de chocolate feito por ela que estava uma delícia. Isto deu uma
ideia à Ana que a apresentou aos outros professores da turma, sugerir a Sara
que trouxesse um bolo de chocolate para a turma comer, mostrando assim que,
além de ser boa a portar-se mal, também era boa numa coisa boa, fazer bolos de
chocolate.
A ideia, para surpresa da Ana,
foi rejeitada por alguns professores pois, argumentaram, “a pessoas más não se
pode dar prémios”. Assim, o bolo de chocolate ficou pelo caminho antes mesmo de
ser feito.
E o mundo continuou como deve e
se espera, prémios e coisa boas são só para pessoas boas. As pessoas más não
podem, naturalmente, esperar e merecer mais do que, claro, coisas más. A Sara
continuou a conversar com a Professora Ana, abandonou a escola nesse ano, por
vezes ainda aparece ao portão para dois dedos de conversa com a professora e a
escola ficou em paz sem a Sara, ou melhor, sem aquela Sara, agora tem um
problema com o João.
Mas essa é outra história.
Caro Zé Morgado, adorei este texto, como muitos outros que leio nesta sua Atenta Inquietude. Tantas Saras, menos Anas do que as necessárias, mas é preciso que as Anas nao desistam. Se o bolo nao pode ser em conselho de turma, que seja só naquela disciplina, mas que a escola não ajude a roubar futuro aos miúdos, principalmente aos que rotula de maus. São esses, os tais maus, os que mais precisam de Anas e da escola.
ResponderEliminarAbraço,
Fabíola
Olá Fabíola, é essa a luta. A escola faz, tem de fazer, a diferença. Abraço
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