No Público encontra-se um trabalho
muito interessante sobre a forma negativa como alguns pais se comportam quando assistem
à prática desportiva dos filhos seja em treino, seja em competição.
O fenómeno não é novo,
evidentemente. Há mais de duas décadas o meu filho era praticante juvenil de
uma modalidade colectiva num clube pequeno, hóquei em patins. Por curiosidade
era guarda-redes, uma posição ingrata e que me deixava sempre inquieto com os riscos
mas de que ele gostava, na qual se empenhava em conjunto com grupo de que ainda
hoje conserva amigos.
Nos treinos, mas sobretudo em
jogos o comportamento a que assistia por parte de alguns adultos (pais) era,
por assim dizer, muito “envolvido”. Nem sequer falo das
“orientações” constantes substituindo o treinador ou dos incentivos, da
exigência e da pressão sempre ruidosas. Falo de em muitos recintos ver miúdos a
ser insultados e ameaçados. Numa circunstância um dos miúdos foi mesmo agredido
por uma senhora quando patinava junto à lateral do campo. Quando assistia a
jogos em alguns locais o ambiente era preocupante e intimidatório. Estamos a
falar de jogos entre crianças. Lamentável e um espelho de um quadro de valores instalado.
No entanto, sendo isto verdade, é importante também
dizer que provavelmente mais do que hoje, as condições mudaram, eram o empenho
e o voluntarismo de alguns pais que permitiam que muitas crianças praticassem
algum desporto em clubes e estruturas muito pequenas e com meios e recursos
insuficientes.
Ainda sobre a forma como alguns pais
se relacionam com os filhos a propósito da prática desportiva deixo uma cena a
que também assisti e que parece elucidativa de uma atitude muito generalizada.
Actores principais - Pai e filho
com uns 6 ou 7 anos
Actores secundários - A mãe que
entre chamadas no telemóvel grita incentivos para o filho
Cenário - uma zona relvada com
dois pinos colocados de forma a simular uma baliza.
Assistentes discretos - o escriba
Guião - O pai ensina o filho a
dar pontapés numa bola de futebol em direcção à baliza dos pinos.
Cena e diálogo (reconstruído a
partir de excertos ouvidos pelo escriba)
O pai apontando para uma zona do
pé do miúdo que tem botas de futebol calçadas - Já te disse que é com esta
parte do pé que tens de acertar na bola, vê se tomas atenção.
O miúdo em silêncio faz mais uma
tentativa que não sai muito bem, não acerta na baliza.
O pai - Assim não vale a pena,
não fazes como te digo, tens que estar concentrado, (aqui lembrei-me do Futre,
um homem concentradíssimo e, certamente por isso, um grande jogador).
O filho - Mas eu dei com esta
parte.
O pai - És parvo, se tivesses
dado com essa parte a bola tinha ido para a baliza. Faz outra vez.
O miúdo com um ar completamente
sofredor executa o que em futebolês se chama o gesto técnico e a bola
teimosamente voltou a não sair na direcção desejada.
O pai - Pareces burro, se queres
ser jogador de futebol, tens que te aplicar, (será que o miúdo quer mesmo ou
será o pai que quer viver um sonho que foi dele e que agora cobra no filho?).
O miúdo, desesperado, sentou-se
no chão com ar de quem espera o fim do jogo.
O pai, irritado, mandou a bola
para longe com um forte pontapé.
O escriba pensou que se o árbitro
tivesse visto, o pai merecia um cartão por comportamento incorrecto.
Fui testemunha presencial de um desvario (doente que delira) de pai que assistia a um jogo de futebol do filho com 12 anos. Acrescento que o jogo fazia parte do campeonato de juvenis da Associação Futebol de Setúbal. O dito senhor não contente com uma decisão do árbitro onde estava envolvido o filho, entrou aos gritos dentro do campo em direcção ao juiz da partida, de pistola em punho,verdadeira, como foi constatado pela polícia que entretanto foi chamada.
ResponderEliminarPara qualquer duvida, o ocorrido deve constar nas ocorrências policiais ou na Associação Futebol de Setúbal.
Lamento pela criança que tem um pai destes.
VIVA!
Post sriptum
ResponderEliminarO menino agora com 14 anos continua a jogar futebol federado num club diferente e o pai persiste em assistir aos jogos. Contenta-se com palavrões indecorosos.
VIVA!
Somos um povo de bons costumes
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