Foi hoje divulgado o manifesto
dos Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990".
Trata-se de mais uma iniciativa
entre várias outras que procura resistir enquanto for possível ao atropelo à
Língua Portuguesa que o Acordo Ortográfico representa.
Vale a pena insistir, importa que
não nos resignemos. É uma questão de cidadania, de defesa da Cultura e da
Língua Portuguesa.
Como tantas vezes tenho escrito,
desculpem a insistência e não inovar, entendo, evidentemente, que as línguas
são estruturas vivas, em mutação, pelo que requerem ajustamentos, por exemplo,
a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras, o que não me
parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como
norma.
Acresce que as explicações que os
defensores, especialistas ou não, adiantam não me convencem da sua bondade,
antes pelo contrário, acentuam a ideia de que esta iniciativa não defende a
Língua Portuguesa. O seu grande defensor Malaca Casteleiro refere até
"incongruências" no AO, o que, aliás, me parece curioso, para ser
simpático. Dito de outra maneira, desencadeamos um acordo com esta amplitude e
implicações para manter "incongruências e imperfeições" que abastardam
a ortografia da Língua Portuguesa.
Por outro lado, a grande razão, a
afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me
parece que o inglês e o castelhano/espanhol que têm algumas diferenças
ortográficas nos diferentes países em que são língua oficial, experimentem
particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for.
De facto, não tenho conhecimento
de alguma perturbação ou drama com origem nas diferenças entre o inglês escrito
e falado na Inglaterra ou nos Estados Unidos, mas isto dever-se-á, certamente,
a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas comunidades anglófonas. O
mesmo se passa entre a comunidade dos países com o castelhano/espanhol como
língua oficial.
O que na verdade vamos conhecendo
com exemplos extraordinários é a transformação da Língua Portuguesa numa
mixórdia abastardada.
Como tenho escrito e repito, vou
continuar a escrever assim, desacordadamente.
Já desisti de me pronunciar sobre este tema, fértil em argumentos controversos, alguns muito legítimos, outros sem grande fundamento, na minha modesta opinião, mas sinto-me no dever de dar o meu testemunho como professora de Português do 3.º ciclo/ secundário (há 32 anos) de que, em contexto escolar, junto dos alunos, isto não é verdade:
ResponderEliminar«O que na verdade vamos conhecendo com exemplos extraordinários é a transformação da Língua Portuguesa numa mixórdia abastardada.»
Os alunos dominam bem, aliás, muito melhor a escrita com o AO90 do que os adultos com quem interagem.
Olá Ana, não discuto a sua experiência, convido-a a ler o que se vai escrevendo, incluindo textoas oficiais. Também poderia argumentar com a minha experiência de leitura de imuitos testes (não são submetidos aos correctores) no ensino superior e ver o estado da língua escrita mas não é esse o meu ponto. É mesmo a falta de sentido do AO que foi feito.
ResponderEliminarTenho lido muito do que se vai escrevendo e nunca defendi que este AO90 é um bom acordo, até pelo simples facto de ser um pseudo acordo entre partes "desacordadas", como costuma dizer, que não chegaram sequer a uma versão única e nem tão pouco coincidiram na data de implementação.
ResponderEliminarContudo, tem muitos aspetos positivos que correspondem à evolução natural da Língua e não devem ser subestimados, carecendo os erros de ser corrigidos, mas sendo impensável retroceder a 2011 sem abastardar a língua por tempo indeterminado.
De salientar também que muitos adultos se têm mostrado preguiçosos no que diz respeito ao estudo das alterações efetuadas, sendo muito mais cómodo juntar a sua voz ao coro dos "indignados" do que apreender as novas regras. Já ouvi desabafos neste sentido, infelizmente.
Aproveito para partilhar um comentário muito interessante que encontrei no blogue De Rerum Natura, a saber:
«Pedro Silva - 24 de janeiro de 2017 às 12:29
Este AO é um pouco como a Teoria da Relatividade, depois a física subatómica de Heisenberg, etc... A cada nova descoberta na linguística, melhora-se um bocadinho, mas ainda andamos a procurar a "Teoria do tudo". Deixem os linguistas trabalhar. Este AO resolve imensas questões que estavam encalhadas com o anterior acordo (de 1945, remendado em 1973) e não há um único problema relatado no Manifesto que não se mantenha se voltarmos à ortografia de 1945/73. Há, isso sim, cerca de 210 situações resolvidas. Relembro, aliás, que as inconsistências encontradas pelos signatários do Manifesto estão ligadas a menos de 0,001% das situações de operação de língua escrita. Em tempo, caro Professor: a ortografia não é a língua, como o eletrão não é o átomo.»
http://dererummundi.blogspot.pt/2017/01/contra-o-acordo-ortografico.html#comment-form