AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

CRIANÇAS E JOVENS LEITORES, LIVROS E BIBLIOTECAS

Realiza-se hoje um encontro que assinala os 20 anos de existência da Rede de Bibliotecas Escolares. Em 20 anos as bibliotecas escolares cresceram de 164 em 1997 para 2426 no ano passado.
São os alunos do 1º ciclo os que mais utilizam as bibliotecas escolares e os diversificados recursos que disponibilizam, estão bem para lá dos livros e nos quais se incluem materiais destinados a alunos com necessidades educativas especiais.
Dado o seu maior número, são também os estabelecimentos do 1º ciclo os que ainda mais necessidade têm da existência de bibliotecas escolares. O recurso à itinerância de recursos minimiza mas não resolve a distância entre os alunos e os materiais.
Curiosamente mas sem surpresa têm vindo a diminuir o número de professores bibliotecários algo que do meu ponto de vista não me parece justificável com o abaixamento do número de alunos pois o número de bibliotecas, o espaço de trabalho dos professores bibliotecários aumentou
Importa sublinhar o aumento dos recursos e a intenção de assim continuar mas julgo pertinentes algumas notas a propósito de leitura, livros e outros materiais, tablets, por exemplo, leitores e bibliotecas.
Como várias vezes tenho afirmado e julgo consensual, a questão central, embora importante, não assenta nos livros, bibliotecas (escolares ou de outra natureza) ou na presença crescente E atractiva dos "tablets", a questão central é o LEITOR, ou seja, o essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, espaços ou recursos, biblioteca, casa ou escola e suportes diferenteS, papel ou electrónico.
Creio que também estaremos de acordo que um leitor se constrói desde o início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de escolaridade é fundamental uma relação estreita com a leitura, não só com os aspectos técnicos, por assim dizer, da aprendizagem da leitura e da escrita da língua portuguesa, mas um contacto estreito e regular com a actividade de leitura, seja do que for, considerando motivações e culturas diferenciadas apresentadas pelos alunos.
Só se aprende a ler lendo, só se aprende a escrever, escrevendo, etc.
Neste contexto, parece fundamental que construa espaço e tempo para a leitura, para a leitura que não é colada ao estudo. Acontece que no actual currículo e no tempo que os alunos estão na escola e da forma como muitas vezes está preenchido, esse tempo para a leitura não abunda, a motivação não se alimenta e os hábitos de leitura mais dificilmente se instalam e mantêm. Recordo um estudo conhecido em 2015 realizado na Universidade do Minho que apontava para que 10% dos alunos do ensino secundário nunca leu um livro até ao fim. Elucidativo.
A relação de muitas crianças com os materiais de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais, na aquisição pressionada dos “objectivos” e "descritores" curriculares e pouco mais apesar do esforço de muitos professores. Restará o tempo das AECs onde, apesar de algumas experiências interessantes, também nem sempre se encontram os conteúdos mais adequados, e o tempo de casa que em muitas famílias, cada vez mais famílias, é curto.
Neste contexto, embora desejasse muito estar enganado, acho ainda muito difícil construir miúdos ou adolescentes leitores que procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o "tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer actividade do mundo que tornam acessível.
Temos que criar leitores, eles irão à procura das bibliotecas e dos recursos. 

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