AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DO BATER NAS CRIANÇAS

Na E, a revista do Expresso, está um trabalho sobre a aplicação de castigos físicos às crianças. Estes castigos, como se sabe, podem ir da mais ligeira palmada à mais pesada tareia. Trata-se de uma matéria que me parece sempre pertinente tratar, basta contactar regularmente com pais ou ler as caixas de comentários a notícias que a abordem. De novo, algumas notas repescadas.
Como se dizia na peça, apesar da legalmente proibido, o bater é um tipo de comportamento inscrito na prática de muitas famílias na sua relação educativa com os filhos.
Aliás, com base no peso cultural deste comportamento a França ainda não seguiu a recomendação do Conselho da Europa de proibir os castigos corporais a crianças. A Secretária de Estado da Família do Governo Francês afirmou há algum tempo em entrevista à AFP e ao Le Monde que não pretendia proceder a alterações pois uma parte da população é favorável aos castigos corporais e não quer "dividir o país em dois campos: os que são pela palmada e os que são contra.”
A Senhora Secretária entendia ainda que "persiste uma tolerância baseada no costume, a do direito de correcção, que é aceite desde que seja ligeira e tenha um fim educativo"
Na verdade e como dizia, os castigos corporais ainda são uma "ferramenta" educativa em muitas famílias e, é conhecido, também em instituições que acolhem crianças.
A ver se nos entendemos, bater em crianças não é uma actividade educativa, o comportamento gera comportamento, aliás, também se sabe que crianças que foram batidas são frequentemente pais que batem.
A este propósito recordo que o Papa Francisco declarou há algum tempo numa intervenção pública que entende que quando um pai bate num filho e não lhe bate na cara está a bater com dignidade, respeita a criança. Confesso que sinto alguma dificuldade em compreender como um comportamento de violência dirigido a uma criança possa ser algo de digno.
No entanto e dito tudo isto, também entendo que comportamentos inadequados ou incompetentes não significam necessariamente que estejamos perante pessoas, pais, más ou incompetentes.
Todos nós, alguma vez, agimos de uma forma menos ajustada ou adequada com os nossos filhos e isso não nos transforma em pessoas más, significa que somos apenas pessoas, que somos imperfeitos, por assim dizer e para utilizar uma expressão actual.
Assim sendo, creio que devemos ser cautelosos, quer na defesa da "estalada educadora", quer na diabolização definitiva de pais que numa situação eventualmente esporádica e de tensão assume um comportamento de que pode ser o primeiro a arrepender-se.
Esta nota, não branqueadora ou desculpabilizante de nada, pode não ser particularmente simpática mas estou cansado, tanto de discursos de legitimação do efeito "educativo" da violência dirigida a crianças, como de discursos demagógicos e, por vezes hipócritas, que clamam pelo "crucificação" cega de uma pessoa, o outro que bate, mas são produzidos por gente desatenta ou mesmo autora ou apoiante doutros comportamentos dirigidos a miúdos tão indignos quanto a "estalada" ainda que menos visíveis.
Finalizando, embora saiba que a legislação mesmo quando é imperativa é entendida como indicativa e, portanto, desrespeitada como temos tantos exemplos em várias matérias é bom não esquecer que estamos a falar de direitos, não de opiniões.

2 comentários:

  1. Gostei de ler e concordo plenamente. Violência gera violência e algo tão antigo que não deveria fazer mais parte de uma nova sociedade. Nomeadamente com tantos e tantos artigos que só provam o que disse: crianças que apanham tornam-se pais que batem. Assim nada muda, nada melhora na nossa evolução. Fico, daí, contente com a existência de cada vez mais alternativas, como a Disciplina Positiva e a Educação com Mindfulness. Ambas estão "na moda" mas a minha experiência ea dos pais e professores que a utilizam demonstram que é possível e que resulta, mesmo tendo sido nós educados tb "à palmada". Estas novas formas de disciplima demonstram gerar famílias mais cooperantes, tolerantes, unidas e felizes. Imagine-se um mundo mais assim!

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  2. Olá Ana, Não são imprescindíveis modelos ou técnicas específicas para educar miúdos sem ter como ferramenta o "bater". No entanto todas as abordagens podem ser interessantes desde que impere o bom senso e não despertem "sentimentos mágicos" de que tudo resolvem. Boas férias

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