Na sequência do manifesto “Pela Escola Pública” assinado por vários blogues, decidiu-se que todos os meses se
debateria um assunto comum lançado a partir do blogue ComRegras. Este mês, o
tema é "as férias escolares".
A questão é recorrente, e
naturalmente, sazonal, acabaram as aulas e agora? Como contributo para o
debate, umas notas breves.
Em primeiro lugar, tal como no
horário não escolar durante o período de aulas existe um problema real para as
famílias com a guarda de crianças e adolescentes. No entanto, a minimização
deste problema não pode, não deve, do meu ponto de vista, assentar na
eternização da presença dos alunos na escola à luz de um enorme equívoco
chamado “Escola a Tempo Inteiro” e que em muitas situações cria overdoses de escola. Como se sabe as overdoses não são saudáveis.
A escola não pode “engordar”
indefinidamente assumindo responsabilidade e competências por todas as
problemáticas que digam respeito a crianças e jovens ou às famílias com filhos
em idade escolar.
Deste ponto de vista, a escola
pode dar contributos, tem conhecimento e alguns recursos ao nível de espaços e
equipamentos, mas, por princípio, não deve ser “responsável” pelas actividades
dos alunos no tempo de férias escolares. É importante não esquecer que neste
período de férias para os alunos, a generalidade dos professores, técnicos e
funcionários das escolas continuam com trabalhos importantes ao nível da
avaliação, planeamento ou manutenção, por exemplo.
Neste cenário, penso que uma
hipótese de minimizar as necessidades de “guarda” de crianças e adolescentes, informada
por uma perspectiva de “tempos livres” e não de “mais escola”, a ideia de “educação
a tempo inteiro” em vez de “escola a tempo inteiro”, seria o recurso optimizado
aos espaços e equipamentos das comunidades, incluindo as escolas, mas da
responsabilidade organizativa de autarquias, estrutura da comunidade que me
parece mais preparada para essa realização.
Este seria, creio, um melhor
caminho de envolvimento autárquico, aliás já verificado em muitas comunidades,
que o anunciado trajecto de municipalização com ameaças à perda ou não
atribuição de autonomia às escolas em esferas da competência destas.
As autarquias têm na sua tutela os
espaços e recursos, incluindo humanos, em termos de desporto, cultura e lazer,
bem como a tutela dos transportes escolares.
O seu envolvimento, contando,
eventualmente, com a consultoria das escolas pois, conhecem a população e as
suas necessidades, seria uma forma de operacionalizar um serviço público de
educação.
Na verdade, como sabemos, existe
uma variadíssima oferta privada de actividades de férias em cuja promoção se
acentua o seu carácter fundamental na promoção do desenvolvimento e de inúmeras
e fantásticas competências, todas imprescindíveis à excelência no desempenho de
crianças e adolescentes.
Como é evidente, só uma pequena
parte das famílias acede a esta “tentadora” oferta do mercado da educação o
que, sem estranheza, alimenta desigualdades.
Muitos países integram nas suas
políticas de família a guarda das crianças em tempo de férias o que tem ainda
um efeito particularmente relevante. A existência de respostas acessíveis na
geografia e no preço é reconhecidamente um factor positivo na construção de
projectos de maternidade nas famílias. Como se sabe a queda demográfica em Portugal
também tem a ver com questões desta natureza.
Participem neste debate navegando pela rede de blogues envolvidos.
Outros contributos (em actualização):
O Meu Quintal
Coisas das Aulas
Correntes
Escola Portuguesa
Assistente Técnico
Outros contributos (em actualização):
O Meu Quintal
Coisas das Aulas
Correntes
Escola Portuguesa
Assistente Técnico
Amigo José, por que razão as escolas fazem férias? Proponho que se comece o debate tentando responder a esta pergunta. E que não se confunda com o direito a férias dos seus professores!
ResponderEliminarA inteligência dos alunos é suspensa, hiberna, para de funcionar em Junho e volta a funcionar em Setembro?
A Igreja faz férias? Os hospitais fazem férias?
Encontraremos a resposta em práticas sociais do século XIX, mas estamos no século XX. Aprendemos 24 horas por dia, 365 dias em cada ano. E não somente em 200 dias letivos...
Abraço fraterno!
José
Olá Zé Pacheco, eu percebo o teu ponto de vista que, creio, se liga à minha ideia de "Educação a tempo inteiro" em vez de "Escola a tempo inteiro" que intoxica os miúdos. A realidade é que temos os calendários escolares que temos e os estilos de vida que temos. Neste cenário, talvez possamos fazer melhor e não tornar o tempo não escolar dos miúdos um prolongamento da escola, ás vezes vivido também na escola, é esse o sentido do meu texto.
ResponderEliminarUma abraço deste lado do Mar.