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terça-feira, 26 de abril de 2016

OS NÚMEROS DA EDUCAÇÃO

Com regularidade são realizados e divulgados estudos explorando as relações entre algumas variáveis e a qualidade da educação e dos resultados escolares.
Os resultados desses estudos tendem a ser divulgados como explicativos, causa-efeito, e servem, curiosamente, para apoiar teses de sentido, por vezes, bem diferentes.
Na maioria das vezes dada a multiplicidade de variáveis em jogo, da complexidade dos contextos educativos e das suas especificidades a análise dos resultados é curta e deixa de fora variáveis relativas a processos.
Vem esta introdução a propósito de nova chamada de atenção para que a ideia de que ““não se verifica qualquer relação entre o número médio de alunos por turma e os resultados obtidos no PISA”. Dois exemplos: a Holanda, com turmas médias de cerca de 25 alunos, obteve 523 pontos nestes testes em 2012, enquanto o Luxemburgo, que tinha turmas de 21 alunos, se ficou pelos 490. Esta afirmação, citada do Público, decorre do estudo “O que faz uma boa escola”, do projecto aQeduto da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do Conselho Nacional de Educação.
Não insistam, por favor neste tipo de conclusões. O próprio CNE num estudo recente veio afirmar que a dimensão da turma tem um impacto fortíssimo na forma como decorrem as aulas, no aumento dos episódios de indisciplina, no tempo destinado pelos professores ao ensino e não ao controlo dos alunos, na disponibilidade para o uso de estratégias de ensino mais diferenciado.
Será crível que estes efeitos não se repercutam mos resultados escolares?
Sabemos que sim e insiste-se na conclusão simples e “útil” a algumas agendas de que com base nos PISA ” não se verifica qualquer relação entre o número médio de alunos por turma e os resultados obtidos”.
O estudo também sublinha a forte relação entre a origem social e cultural e os resultados dos alunos e de como nem sempre a escola é capaz de fazer a diferença e contrariar os resultados esperados. Então o efectivo de turma também é irrelevante?
E que dizer de políticas educativas que promovam, ou não, a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes níveis do trabalho dos professores?
E que dizer de políticas educativas que envolvem aspectos como conteúdos e organização curricular, diferenciação de percursos, de oferta educativa e de práticas, modelo de organização das escolas, recursos humanos adequados ao nível de docentes, técnicos e funcionários, tipologia e efectivo de escolas e turmas, autonomia real das escolas?
Nada disto mexe com os resultados dos alunos?
Sim, todos os estudos são necessários e úteis, muito úteis
No entanto creio que a forma como são tratados e divulgados os seus resultados merece prudência, análise cruzada e contextualizada.
Os territórios educativos têm características próprias, os processos educativos são complexos e não podem ser vistos só os resultados.

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