O Conselho Nacional de Educação
divulgou um estudo "Organização Escolar: As Turmas", centrado na
variável dimensão da turma e no seu impacto, cuja leitura me parece importante.
Para além de realizar uma leitura
sobre o que se passa em matéria de dimensão das turmas no ensino português, é
feita um análise comparativa internacional e uma revisão de estudos relativos
ao impacto da dimensão da turma na qualidade da educação e não só, sublinho não
só, nos resultados escolares.
Sem surpresa e considerando o que
está estabelecido no quadro legal, encontramos turmas subdimensionadas, turmas
sobredimensionadas, turmas dentro dos parâmetros estabelecidos, turmas em que
se não cumpre o definido relativamente à presença de alunos como necessidades
educativas especiais e muitos casos de turmas do 1º ciclo com alunos de
diferentes anos de escolaridade.
Da referência aos estudos
realizados releva a vantagem genérica, mais ou menos significativa, consoante
as variáveis consideradas, de turmas com efectivos menores. Gostava de acentuar
que os estudos sugerem com clareza impacto positivo no clima da sala, na maior
facilidade de práticas educativas mais diferenciadas, no comportamento dos
alunos, etc., o que, evidentemente deve ser considerado.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas mas também me parece que
não são consideradas variáveis importantes o que deve ser tido em conta na sua análise.
O CNE recomenda que todas estas
variáveis sejam consideradas e que às escolas seja atribuído uma maior
responsabilidade na definição das turmas, na organização dos grupos de alunos.
Como ainda não há muito aqui
escrevi importa ter em conta as diferentes características dos diversos
territórios educativos.
Por princípio, turmas menores,
dentro de parâmetros razoáveis, favorecem a qualidade do trabalho dos
professores e dos alunos com naturais consequências nos resultados escolares,
no clima e condições de trabalho e, naturalmente, no comportamento dos alunos.
No entanto, é também necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características da escola, a constituição do corpo docente, os
recursos disponíveis, etc., sendo ainda de sublinhar que a qualidade e sucesso
do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores, sendo que a
dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar, vejam-se relatórios
e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos de organização e
funcionamento da sala de aula e da escola, bem como o nível de autonomia de
cada escola ou agrupamento. Daí a importância de promover uma autonomia real.
Em termos mais concretos, em
algumas escolas, mesmo no sistema público, uma turma de 25 alunos ou mais pode
ser ingerível e o sucesso dificilmente alcançável, enquanto noutras escolas a
realidade pode ser bem diferente, com contornos mais tranquilos. Acresce nesta
matéria importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com
necessidades educativas especiais o que, evidentemente, deve ser considerado na
análise do efectivo de turma.
Diga-se ainda que quase que seria
dispensável referir a diferença entre trabalhar com trinta alunos num
estabelecimento privado de acesso condicionado ou o mesmo número de alunos num
mega agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
De acordo com a recomendação do
CNE e dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, deveriam estas
ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a existência
de orientações nesse sentido.
Acontece que as sucessivas
equipas do ME não confiam nas escolas e nos professores pelo que também este
processo é altamente centralizado e administrativo com efeitos negativos conhecidos.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos professores, também me
parece que deveria ser promovida uma verdadeira desburocratização do trabalho
nas escolas e promovido algum ajustamento na sua organização e funcionamento o que
certamente libertaria tempo de professores para trabalho em turma ou em apoios
que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido
são politicamente difíceis mas parecem-me imprescindíveis.
Muito obrigada, Zé, pelas tuas atentas leituras. Muitas vezes já me falta a paciência. Bjs,
ResponderEliminarM
Olá Margarida, o Atenta Inquietude ajuda-me a lidar com a falta de paciência. :)
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