AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

OS MUROS

A imprensa continua inundada pela nauseante análise do debate entre Passos Coelho e António Costa centrando boa parte dessa análise em aspectos acessórios e por referências à construção de muros e vedações como forma de travar a entrada de refugiados na Europa.
São estranhos os movimentos da história.
O ano passado a quase totalidade da Europa comemorou os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Em 2015 a quase totalidade da Europa assiste sem grandes sobressaltos das suas lideranças à proliferação da construção de muros e barreiras de arame farpado alimentando a vida de terror e drama de muitos milhares de pessoas a viver num inferno que, também, foi ateado pela incompetência de decisões políticas dessas mesmas lideranças.
Talvez a relativa tranquilidade com que se assiste à construção de muros e barreiras em diversos pontos acabe por não ser estranha.
Eles vão sendo construídos nas nossas vidas conduzindo no limite à construção de "condomínios de um homem só" rodeado de muros para que ninguém entre.
Estes muros são menos visíveis mas não perdem eficácia.
Na verdade, existem muros que transformam a vida de muitas crianças, jovens e adultos, sobretudo e como sempre dos mais vulneráveis, numa permanente corrida de obstáculos em que são atropelados alguns dos seus direitos.
Estes muros são constituídos, por um lado, por constituído por dimensões mais tangíveis, falta de recursos humanos e técnicos, barreiras físicas e acessibilidade, insuficiência de apoios de natureza social, etc.
Por outro lado, boa parte deste muro é constituído por dimensões de outra natureza, desvalorização dos problemas das minorias, intolerância, o entendimento de que os direitos humanos são de geometria variável e dependentes da conjuntura, ou seja, se existir mais dinheiro, teremos mais direitos.
Muitas crianças, jovens e adultos estão ou sentem-se excluídos ou “tolerados” num canto das suas comunidades e são também eles refugiados de um quotidiano que os maltrata e é tantas vezes insuportável.
As comunidades, mais do que a mediocridade das suas lideranças, não podem deixar que estes muros se mantenham e, mais grave, que se construam novos muros e barreiras.
Um dia, sem darmos conta, ao querer olhar para o que está à nossa volta já não conseguimos, o muro com que nos fecharam não o permite.
Aí talvez seja um pouco tarde.

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