Neste contexto, gostava também de recuperar a entrevista
dada em Maio ao Público por Phippe Legrain, ex-conselheiro económico de Durão
Barroso, que constitui um excelente contributo para entender como a ajuda
"solidária" e "generosa" dos nossos parceiros e que nos
empobreceu foi, fundamentalmente, resultante da incompetência das lideranças da
Comissão Europeia e da protecção dos interesses da banca francesa e, sobretudo,
alemã. Nada de novo, apenas o reforço de que a via seguida, austeridade e
empobrecimento, não era a única alternativa mas foi imposta para defender
interesses particulares e aceite sem sobressalto por uma gente sem espinha que
abdicou da sua soberania.
Recordo, aliás, que em Novembro
de 2013, já alguns países europeus consideravam cada vez mais as políticas
económicas da Alemanha como o principal obstáculo à resolução da crise
económica que atravessamos, referindo-se que a Comissão Europeia iria
desencadear uma investigação sobre os excedentes comerciais e as contas
correntes alemãs. No entanto, a situação privilegiada da Alemanha é conhecida
de há muito.
Recordo ainda dados de Julho de
2013 que mostravam como os grupos empresariais franceses e alemães foram os que
mais beneficiaram das políticas de ajuda do BCE sendo prejudicadas as empresas
espanholas e portuguesas. As taxas de juro do BCE decididas como medidas de
apoio à economia e a forma como os bancos gerem as taxas de juro nos
empréstimos às empresas, levaram a que, de acordo com a Comissão Europeia, as
pequenas e médias empresas portuguesas, gregas, espanholas e cipriotas as que
mais são penalizadas pagando taxas de juro bastante mais altas. Muito
interessante e elucidativo.
Dados do Eurostat mostravam como
de 2009 para 2012 os países do Centro e Norte da Europa ficaram mais ricos e os
do Sul mais pobres, ou seja e como sempre, a crise tornou os ricos mais ricos e
os pobres mais pobres. Para exemplificar, Portugal em 2009 tinha Portugal um
PIB per capita 80% da média da EU27 para em 2012 passar para 75% tornando-se um
dos quatro países com menor poder de compra.
A análise dos dados mostra como
os países envolvidos em programas de austeridade impostos pela
"ajuda" se afundaram em dificuldades e os países que generosamente
"ajudam" vão enriquecendo. Deve ser a isto que chama solidariedade e
coesão europeias.
Parece claro que para além das
enormes responsabilidades políticas internas, importa considerar como, sem
surpresa face a muitos dados já conhecidos, que os países mais ricos têm
beneficiado fortemente com os pacotes de "ajuda solidária" dirigidos,
impostos, aos países mais pobres com os resultados conhecidos.
Por outro lado e como também se
sabe, as economias fortes do norte da Europa financiam-se a taxa zero ou mesmo,
estranhamente a taxas negativas, enquanto nós, as economias do sul e a Irlanda
pagamos juros altos cujo montante seria um excelente contributo para a redução
dos nossos problemas de equilíbrio. Está certo, somos pobres, temos o dinheiro
mais caro, os mais ricos têm o dinheiro mais barato. Deve ser isto a que chamam
os mercados a funcionar.
Eu sei, estúpido que sou, que a
economia e as finanças constituem uma matéria inacessível ao cidadão comum, mas
parece-me, certamente de forma errada, que assim se torna mais difícil que os
países em dificuldades deixem de ser pobres e que haja maior equidade e coesão
económica e política na União Europeia.
Que não me levem a mal os nossos
generosos amigos, mas às vezes até penso que é justamente isso que pretendem
com a ajuda desinteressada que nos dão, que, naturalmente, temos de pagar mas
que nos vai deixando pobres.
Tenho até medo de estar a ser
injusto para com a sua generosidade e para com os feitores que em seu nome nos
administram e estão de forma tão empenhada e eficaz a promover o nosso
empobrecimento.
ResponderEliminarArtigo sobre o Ensino Superior no Jornal Público.
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/ensino-superior--um-equivoco-chamado-bolonha-1704592?page=-1
Abraço
Pedro.