Ao que se lê na imprensa a Entidade
Reguladora para a Comunicação Social encontra "Fortes indícios de acções
enganosas" nos concursos com chamadas telefónicas que proliferam nas
televisões. Nada de que se não suspeitasse tão evidentes são os abusos. Vamos
ver se se verificam alterações.
Esta chamada de atenção para a
utilização das chamadas telefónicas e publicidade levou-me para uma nostálgica, saborosa e
tranquila viagem de décadas lá para o início da minha adolescência.
Naquele tempo, na minha casa
tínhamos como equipamento para ouvir música um excelente rádio, ainda de
válvulas, que, além da música permitia ouvir algumas coisas em onda curta que
não queriam que ouvíssemos sendo nessa altura usado quase em surdina.
Entretanto, com as economias da
costura da minha mãe e dos serões e trabalho a prémio que o meu pai fazia no
Arsenal do Alfeite, ofereceram-me um espectacular gravador de cassetes com
rádio incluído, um fascínio. Só algum tempo depois chegou uma televisão lá
casa.
Era este rádio e gravador,
companheiro de todas as horas quando em casa, que me permitia ouvir música,
algo que não dispenso. Ainda hoje sempre tenho música à minha beira, tal como
agora que estou a escrever na companhia de uns velhos conhecidos “Os Doors” de
Jim Morisson.
Com este extraordinário
equipamento comecei a construir a minha "casseteca" a partir dos
programas que passam música de que gostava e que era ouvida na rádio pois muita
não era passada, eram tempos de censura.
O problema é que, muitas vezes,
as músicas que iam passando não eram anunciadas previamente o que não permitia
gravá-las integralmente. Não contem a ninguém destas piratarias.
No entanto, várias estações de
rádio tinham programas de discos pedidos, quase sempre com um formato muito
popular, "Quando o telefone toca", em que o ouvinte, depois de
reproduzir a frase publicitária solicitada naquele dia e programa, pedia um
"disco". Estava atento e com os dedos a postos para carregar no
"rec" sempre que era pedida música me interessasse. Devo dizer que
muitas vezes, era um esforço e um tempo inglórios, não "pescava" algo
de que que gostasse.
Muitas dezenas de músicas foram
sendo assim, laboriosamente, coleccionadas, aumentando o acervo e tendo uma
banda sonora que me acompanhava.
Como curiosidade sobre este tipo
de programas, "Quando o telefone toca", lembro-me de uma vez o, ou a,
ouvinte ter dito a frase publicitária "Compre o seu frigorífico no
Ultramar" em vez de um mais fácil "Compre o seu frigorífico na
"Ultralar"" uma, à época, bem conhecida loja de electrodomésticos.
Outros tempos, outras vidas.
Achei engraçada esta viagem ao passado.
Muito engraçadas as suas memórias!
ResponderEliminarEu tive menos sorte. Frequentava um colégio interno, onde todos esses equipamentos eram proibidos. Se existiam, era na clandestinidade.
Por acaso, tinha um pequeno transistor que levava para a cama, bem escondidinho debaixo dos lençóis, para ouvir o programa "Quando o telefone toca", com os "egoístas" nos ouvidos. Um dia, o sono foi mais forte, deixei-me dormir e remexi-me de tal modo que os "egoístas" se soltaram do transistor e houve música para a geral.
Escusado seria contar o resto: fiquei sem o transistor de vez e com o castigo de, durante uma semana, ir para a camarata logo a seguir ao jantar, sem direito a recreio. :-(
ADENDA (em jeito de piada): Não acha que hoje, uma criança com estes tratos se tinha transformado num adulto traumatizado? É que o destino do transistor foi o mesmo dos livros de banda desenhada, mesmo do Astérix e do Tintim ("leituras impróprias"), dos pacotes de bolachas, dos "Tupperwares" com bolinhos da avó, etc e tal...
ResponderEliminarEnfim, outros tempos!
É mesmo memória, não é saudosismo, embora me pareça que a vida dos miúdos tendo, genericamente, mais e diferente do que nós tínhamos, não é nada fácil.
ResponderEliminar