Recorde-se que, tal como no
Ensino Básico, o novo Programa de Matemática visa substituir o que estava em vigor apenas desde 2007 sem
que tivesse sido avaliada a sua bondade. A mudança nos programas destinam-se
evidentemente, a torná-los coerentes com as metas curriculares de 2012 num
processo que parece inverso ao que seria desejável, primeiro deveriam ser
definidos os conteúdos do programa e que seriam depois operacionalizados
através de metas.
A expectativa de que algo possa
ser revista é baixa, passou-se assim com o Programa para o Básico, mas os promotores entendem a necessidade de
que, pelo menos, se discuta a questão.
Não sendo especialista nesta
áreas procuro acompanhar a questão dada a sua óbvia relevância. Na verdade, o
que parece estar em jogo são diferentes concepções sobre o papel da compreensão
e da memorização na aprendizagem da matemática. Eu diria diferentes concepções sobre
educação e escola.
Recordo que quando foi colocado
em discussão um novo Programa de Matemática, o Ministro Nuno Crato ter
sustentado a iniciativa com a “grande liberdade metodológica aos
professores”, para ensinarem de acordo com“ a sua experiência, as suas técnicas
e a sua sala de aula” face a um programa moderno e com "objectivos mais
facilmente perceptíveis". O Ministro insistiu que "a ideia foi
sempre dar esta liberdade metodológica”, para que cada docente fique livre
de definir o seu próprio método de ensino dos diversos conceitos. Muito bem. Creio
que até disse isto sem se rir.
Ainda no que dizia respeito a
metodologias, lia-se no ponto 6 do Documento, "Tendo em consideração,
tal como para os níveis de desempenho, as circunstâncias de ensino (de modo
muito particular, as características das turmas e dos alunos), as escolas e os
professores devem decidir quais as metodologias e os recursos mais adequados
para auxiliar os seus alunos a alcançar os desempenhos definidos nas Metas
Curriculares.
A experiência acumulada dos
professores e das escolas é um elemento fundamental no sucesso de qualquer
projeto educativo, não se pretendendo, por isso, espartilhar e diminuir a sua
liberdade pedagógica nem condicionar a sua prática letiva. Pelo contrário, o
presente Programa reconhece e valoriza a autonomia dos professores e das
escolas, não impondo portanto metodologias específicas.
Sem constituir ingerência no
trabalho das escolas e dos professores, nota-se que a aprendizagem matemática é
estruturada em patamares de crescente complexidade, pelo que na prática letiva
deverá ter-se em atenção a progressão dos alunos, sendo muito importante
proceder-se a revisões frequentes de passos anteriores com vista à sua consolidação."
Seguia-se a orientação para que não se use a calculadora.
Este texto, como disse na altura
... não diz nada seria, aliás, um bom exemplo do que o ex-opinador Ministro
Crato designava por eduquês.
O que continuo com uma enorme
dificuldade em entender é como é que esta retórica sobre "liberdade
metodológica", "características das turmas e dos alunos",
"autonomia dos professores e das escolas, "revisões frequentes",
etc., como metas extensíssimas, conteúdos desadequados, dizem os especialistas,
turmas em cima dos 30 alunos no Secundário e 26 no Básico, falta de apoios,
etc.
O ensino tenderá a transformar-se
na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas
implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os
alunos, os seus ritmos de aprendizagem preparando-se exclusivamente para a realização
de exames, quantos mais melhor.
Apesar do MEC acenar com a
referência aos modelos anglo-saxónicos como selo de qualidade, o que está longe
de acontecer, devo confessar que continuo apreensivo tal como os autores do
Programa de Matemática que estava em vigor, a Sociedade Portuguesa de
Investigação em Educação Matemática e a Associação Nacional dos Professores de
Matemática, entidades que recorrentemente manifestaram reservas face aos novos
programas de Matemática, alertando para o risco de retrocesso nos resultados
positivos que os últimos dados dos estudos comparativos internacionais
demonstraram utilizando um programa que estava agora a terminar a sua fase de
generalização e era de apenas de 2007.
Dada a habitualmente assumida
infalibilidade e a arrogante genialidade do MEC que escondem alguma ignorância
e uma agenda ideológica, embrulhadas em palavras como rigor, exigência as
mudanças, também nesta matéria, não se verificarão alterações.
Os ventos do tempo, vão fazendo o
seu caminho construindo um modelo de educação que produzirá exclusão, quer de
professores, por umas razões, quer de muitos alunos que serão direccionados
para o ensino dual em modo Crato e entrarão bem cedo nas fábricas previstas na
prometida “reindustrialização” do país.
Restará o pequeno grupo que
constituirá a elite e assim se cumprirá a visão de escola desta gente.
Por falar em Problemas de Matemática isto não é normal e incentiva à violência contra os Animais. Areal Editores.
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Cumprimentos.
Pedro.
É demasiado estúpido e incompetente.
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