De novo e sempre, estudar compensa. Definitivamente.
Na linha dos dados já conhecidos, alguns indicadores agora
divulgados no âmbito do 4.º Barómetro Educação em Portugal 2014, da
responsabilidade da EPIS – Empresários pela Inclusão Social, mostram que a
percentagem de estudantes que expressam a intenção de não continuar estudos
para além do 12º ano está a aumentar. De um universo de 2192 alunos inquiridos,
39.5% tem o 12º ano como objectivo e, mais preocupante ainda, 6% apenas
pretende concluir o 9º ano.
Os autores do estudo associam esta intenção a equívocos
na associação entre qualificação e emprego (desemprego) e também às
dificuldades económicas das famílias.
Dados disponíveis sustentam este entendimento mas, do meu
ponto de vista, há que sublinhar os eventuais efeitos no estabelecimento do
equívoco referido que terá um discurso recorrentemente difundido, ampliado por
alguma imprensa preguiçosa, de que, dada a enorme taxa de desemprego de jovens
com qualificação superior, o investimento numa qualificação superior não
compensa pois não existe mercado de trabalho, alguns empregos que surgem são
precários e mal pagos e muita gente qualificada está a ser empurrada para fora
por falta de futuro cá.
Por partes. Na verdade, Portugal, conforme alguns estudos
demonstram, tem comparativamente a muitos outros países da Europa, um dos mais
altos custos para as famílias a situação de um filho a estudar no ensino
superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço bem maior, em
termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a formação
superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior privado o esforço é
ainda maior. Tem vindo a ser regularmente noticiada a desistência da frequência
dos cursos por muitos alunos que, por si, ou os respectivos agregados
familiares não suportam os encargos com o estudo.
Estas dificuldades são, do meu ponto de vista, considerados
frequentemente de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas. Tal entendimento
parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é um luxo, um bem
supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Neste contexto, o abaixamento na intenção de prosseguir
estudos superiores pode estar associado às dificuldades enormes que muitas
famílias atravessam e o desemprego mais elevado entre os jovens, que poderia
constituir uma pressão para continuar os estudos a que acresce a redução
significativa das bolsas e apoios, tornam ainda mais difícil a realização de
percursos escolares que promovam mobilidade social e que se traduz, por
exemplo, no aumento das desistências ou mesmo na intenção e disponibilidade
para estudar.
Relativamente aos discursos sobre “estudar não compensa”, o
futuro é o desemprego, umas notas.
Como muitas vezes aqui tenho afirmado Portugal é o país da
OCDE em que estudar mais compensa ao nível do estatuto salarial, segundo o Relatório
da OCDE, "Education at a Glance 2012", a diferença salarial de jovens
com licenciatura para jovens com formação a nível do secundário é de 69 %.
Não esqueço o altíssimo e inaceitável nível de desemprego
entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, mas
esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de
trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego e
não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes
produzido no sentido de que "não adianta estudar" não colhe e não tem
sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada
como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão afirmada quanto errada
ideia de que somos um país de doutores, continua, em termos europeus, com uma
das mais baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias
incluindo as mais jovens apesar das afirmações insustentáveis de Angela Merkel.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre e é
imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa
ainda mais.
Portugal não tem gente qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mer mercado de trabalho que a cegueira
da austeridade e do empobrecimento tem vindo a proletarizar e que não absorve a
mão-de-obra qualificada. Não podemos passar a mensagem de que a qualificação
não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
O comentador M Sousa Tavares afirmou, num daqueles comentários muito sui generis, que o paradigma presente e futuro é e será as empresas fazerem cada vez mais dinheiro com cada vez menos trabalhadores e emprego.
ResponderEliminarMesmo para um ouvinte aparvalhado e ensonado, a questão levantou-se: " E então explica lá como se gera e se reproduz esse dinheiro, com o putativo consumidor desempregado, precário e com salários de caca".